Quando se atreveu a sair de casa, após dias enclasurada junto a tristeza, melancolia, choro e falta de apetite, descobriu que o mundo a sua volta continuara rodando, apesar de todo o seu sofrimento. Ele lhe deixara só, após 5 anos de vida conjugal. Conjugal, isto é, vida conjugada. Ela conjugara a sua vida a dele. Dedicara-lhe seu amor, sua atenção, seu tempo, sua decisões. Deixara de ser independente para se tornar dele. Por cinco anos se sentiu uma personagem de romances românticos, uma mulher cuja vida dependia do homem de sua vida. Vivera feliz, da forma como durante anos, cética, duvidara que houvesse fora dos romances e filmes. Adorava dizer que ele era "seu senhor", num chiste que carregava toda verdade de seu sentimento de entrega.
Mas ele foi embora. Dizendo que amava mas que estava insatisfeito, triste, em crise de 37 anos. E ela nem conseguiu odiá-lo. Só chorou. Lembrou-se de uma sensação infantil, de abandono, um medo que devia ter sentido quando bebê. Ele lhe proporcionara os dias mais felizes de sua vida, para terminar com os mais tristes. Uma semana de tristeza profunda, de Tylenol diário para dor de cabeça, de pensar em um Rivoltril para fingir esquecer. Mas ela não era do tipo que queria esquecer. Queria chorar, chorar, chorar, imaginando que aquilo tudo fosse um pesadelo, que iria acordar para encontrá-lo dormindo ao seu lado, como sempre. Como nunca, a partir de então.
Chorou por sete dias, amparada pela família, amigos e pelo Tylenol. Se alimentou de chocolates da Kopenhagem, um prazer que era puro gozo, pois comia desejando vê-lo adentrar o apartamento e sorrir dizendo que então era assim, facilmente substituído por um bombom de licor, e então abraçá-la e beijá-la, dizendo que nunca mais cometeria o desatino de deixá-la.
Ele não apareceu, escreveu 3 emails e uma mensagem de celular perguntando se ela estava bem. Ela respondeu apenas, Não. Com amor., e um verso de Against all Odds, porque nenhuma canção mais elaborada vinha a sua cabeça como traduação da sua dor. "As canções mais tolas, tendo seus defeitos, sabem diagnosticar, o que vai no peito." Ela já lhe citara os versos de Lulu Santos, sabia que ele entenderia os de Phil Collins, mesmo não gostando muito de nenhum dos dois. Agora, pelo visto, também não gostava muito dela.
Mas hoje ela precisava trabalhar. Não podia mais faltar. Não podia arriscar perder seu emprego, após perder o amor. Vestiu-se da melhor forma possível, para parecer melhor do que estava, o que acabava entregando tudo de forma contrária. Chorou um pouco na frente do espelho, desejando de forma mágica que aquelas fossem as últimas lágrimas. A dor em algum lugar no meio do seu corpo a lembrava de que ainda seriam necessárias muitas lágrimas para aplacar aquilo que parecia um buraco interior. Engraçado como se pode sentir dor só emocional. Não havia lesões, machucados ou cortes aparentes no seu corpo. Mas em algum lugar, nem bem interno, nem bem externo, no corpo mesmo, só que sem aparecer, ela estava simplesmente despedaçada. Quando se doa si próprio a um outro e esse outro um dia simplesmente vai embora de você, é como se o corpo se esvasiasse, como se fosse só uma fantasia, uma capa, a ser preenchida. Ele a prenchera durante cinco anos. Mas, como com o Elefante de Drummond:
"caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado. "
O amor dele fora sua cola, mas secara. E agora, ainda que desomoronada e catando pedaços emocionais de si mesma, precisava recomeçar. E o amanhã já era hoje.
O mundo, na sua microsfera carioca, não esperava por ela, as pessoas passavam sem nem mesmo notar-lhe os olhos vermelhos, as lágrimas furtivas. Sozinha de novo, teria de se haver com a sua vida inserida nesse Rio, onde até o sol e o céu azul pareciam desdenhar de seu sofrimento. Tinha um ônibus para pegar.
Mas ele foi embora. Dizendo que amava mas que estava insatisfeito, triste, em crise de 37 anos. E ela nem conseguiu odiá-lo. Só chorou. Lembrou-se de uma sensação infantil, de abandono, um medo que devia ter sentido quando bebê. Ele lhe proporcionara os dias mais felizes de sua vida, para terminar com os mais tristes. Uma semana de tristeza profunda, de Tylenol diário para dor de cabeça, de pensar em um Rivoltril para fingir esquecer. Mas ela não era do tipo que queria esquecer. Queria chorar, chorar, chorar, imaginando que aquilo tudo fosse um pesadelo, que iria acordar para encontrá-lo dormindo ao seu lado, como sempre. Como nunca, a partir de então.
Chorou por sete dias, amparada pela família, amigos e pelo Tylenol. Se alimentou de chocolates da Kopenhagem, um prazer que era puro gozo, pois comia desejando vê-lo adentrar o apartamento e sorrir dizendo que então era assim, facilmente substituído por um bombom de licor, e então abraçá-la e beijá-la, dizendo que nunca mais cometeria o desatino de deixá-la.
Ele não apareceu, escreveu 3 emails e uma mensagem de celular perguntando se ela estava bem. Ela respondeu apenas, Não. Com amor., e um verso de Against all Odds, porque nenhuma canção mais elaborada vinha a sua cabeça como traduação da sua dor. "As canções mais tolas, tendo seus defeitos, sabem diagnosticar, o que vai no peito." Ela já lhe citara os versos de Lulu Santos, sabia que ele entenderia os de Phil Collins, mesmo não gostando muito de nenhum dos dois. Agora, pelo visto, também não gostava muito dela.
Mas hoje ela precisava trabalhar. Não podia mais faltar. Não podia arriscar perder seu emprego, após perder o amor. Vestiu-se da melhor forma possível, para parecer melhor do que estava, o que acabava entregando tudo de forma contrária. Chorou um pouco na frente do espelho, desejando de forma mágica que aquelas fossem as últimas lágrimas. A dor em algum lugar no meio do seu corpo a lembrava de que ainda seriam necessárias muitas lágrimas para aplacar aquilo que parecia um buraco interior. Engraçado como se pode sentir dor só emocional. Não havia lesões, machucados ou cortes aparentes no seu corpo. Mas em algum lugar, nem bem interno, nem bem externo, no corpo mesmo, só que sem aparecer, ela estava simplesmente despedaçada. Quando se doa si próprio a um outro e esse outro um dia simplesmente vai embora de você, é como se o corpo se esvasiasse, como se fosse só uma fantasia, uma capa, a ser preenchida. Ele a prenchera durante cinco anos. Mas, como com o Elefante de Drummond:
"caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado. "
O amor dele fora sua cola, mas secara. E agora, ainda que desomoronada e catando pedaços emocionais de si mesma, precisava recomeçar. E o amanhã já era hoje.
O mundo, na sua microsfera carioca, não esperava por ela, as pessoas passavam sem nem mesmo notar-lhe os olhos vermelhos, as lágrimas furtivas. Sozinha de novo, teria de se haver com a sua vida inserida nesse Rio, onde até o sol e o céu azul pareciam desdenhar de seu sofrimento. Tinha um ônibus para pegar.
Um comentário:
Posso dizer uma coisa... tb me senti assim recentemente... não sei se é com você que está acontecendo isso, mas eu entendo como é... 5 anos... acho que é a crise dos 5 anos... o meu tb foi ao 5 anos... uma hora você se conforma... melhorar somente aos poucos e em passos lentos...ás vezes você quer dar uma marretada na cabeça para ver se esquece... se fica mais fácil... mas nao resolve tb... pode parecer clichê mas a maior verdade é que só o tempo cura... traz alento... VAI PASSAR... tente se convercer disso... será o melhor á fazer
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