segunda-feira, janeiro 27, 2014

Esse texto é de 29/01/2002 e de repente pareceu bem atual. Por isso a repostagem.

"Além disso, segundo a pesquisa apresentada por Kofi Annan à ONU durante a Assembléia do Milênio, dois terços dos cidadõas do mundo (incluindo os das democracias ocidentais) não se consideram representados por seus governantes. O que dizem os movimentos antiglobalização, portanto, é que essa democracia, embora necessária para a maioria, é insuficiente aqui e agora."

Manuel Castells, tradução de Sergio Molina, in Mais! - Folha de São Paulo, 27/01/2002


Nossa Contituição (a última, de 1988) torna possível, e até mesmo encoraja, através de diversos mecanismos, uma maior participação da população nas decisões dos poderes Legislativo, executivo e até mesmo Judiciário. Isso se dá através da criação de Conselhos, cujos participantes são a prórpia população, que têm poder de fiscalizar e sugerir mudanças nesses Poderes.

Aparentemente, é uma ótima inicativa, e os constituintes estavam certos ao tornar possível tal tipo de controle da população sobre seus representantes. O único problema, ao que me parece, é que isso também se torna mais uma obrigação, um fardo do povo. Se já somos obrigados a escolher nossos representantes do Legislativo e Executivo, se confiamos a essas pessoas o poder de decidir o rumo do país (e portanto, em certo grau, de nossas próprias vidas) provemos a elas salários mais do que condizentes a tal responsabilidade, porque ainda temos de ser intimados a fiscalizar o trabalho que fazem?

O povo brasileiro, na sua maioria, trabalha no mínimo 8 horas por dia para ganhar muito, muito menos que os políticos e ao mesmo tempo são os impostos (diretos e indiretos) que pagam responsáveis pelos altos salários pagos nas esferas do poder. E além de trabalhar para pagar pela representação, além de confiar (quase cegamente) nessa representação, ainda se espera que o povo fiscalize constantemente seus representantes. Porque é pela não fiscalização, por não exercer plenamente seu direito de cidadania que o povo é enganado por políticos corruptos.

Essa é uma forma de entender o problema da corrupção no país. Uma forma canalha que, assim como tem sido feito com a atual epidemia de dengue, joga toda a culpa no povo. É o povo que não se utiliza dos meios de fiscalização que lhe foram dados, é o povo que mantém água parada em casa.

É claro que todos nós temos uma parcela de culpa. O país é o seu povo, manipulado ou não, é o povo que faz o país, não o contrário. Mas não se pode querer exigir demais das pessoas. É demagogia barata esperar que um povo mal instruído (talvez até mal educado), que tem de se virar como pode para conseguir sobreviver com o mínimo resquício de dignidade, ainda encontre tempo para se preocupar com o que os governantes fazem ou deixam de fazer em seu nome. As pessoas realmente acreditam que ao votar estão confiando seu futuro a alguém mais capacitado que elas (e talvez aí resida o porque das constantes derrotas de Lula, o povo quer gente que pareça mais inteligente que ele, não confiamos em nós mesmos!) de forma tal que se os representantes, mais inteligentes, não sabem o que fazer, como essas pessoas "incapacitadas" podem saber?

E assim, a elite dominante continua encontrando formas de fazer o que bem entende, ao mesmo tempo que torna o país mais civilizado e moderno, "para inglês ver".

Não adianta criar leis modernas e justas se o povo não é capaz de entendê-las e utilizá-las...

Uma música para terminar...

Natália
Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá


Vamos falar de pesticidas
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma mentira
E a mentira é a salvação
Beba desse sangue imundo
E você conseguirá dinheiro
E quando o circo pega fogo
Somos os animais na jaula
Mas você só quer algodão-doce
Não confunda ética com éter
Quando penso em você eu tenho febre
Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
É complicado estar só
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quanto tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdida
Nos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos ainda
E quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você

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