-Sim. Afinal, não pedimos a ninguém para sermos criados como indivíduos livres.
-É exatamente esse o ponto central em Sartre. Acontece que somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos nos guiar. E isso torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Por essa razão, não podemos simplesmente colocar de lado nossa responsabilidade e dizer que "temos" de ir trabalhar, ou então que "temos" de nos pautar por certas expectativas burguesas quanto ao modo como devemos viver. Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do homem nos obriga a fezer de nós alguma coisa, a ter uma existência "autêntica" ou verdadeira.
Sofia Amundsen e Alberto Knox, em O Mundo de Sofia, pág.463, de Jostein Gaarder, Ed. Círculo do Livro, 1991.
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