Parecia-lhe que sua vida serviria para que coletasse memórias, tal qual dados. As grandes, inesquecíveis e as pequenas, esquecíveis, mas passíveis de serem lembradas. Inesquecíveis eram os momentos únicos, aqueles que enquanto mesmo aconteciam já se sabia que eram memoráveis. Vivia-os com intensidade e guardava-os com igual força. Eram como momentos definidores, clímax de filmes. Quando a música subia, as cores ficavam mais vivas. Mas não passavam de momentos, não se repetiam e por isso era tão importante armazená-los na memória orgânica e sentimental. Eram olhares nos quais poderia se perder para sempre. E por aqueles instantes perdia-se. Mas tinha de retornar (será mesmo?). As pequenas memórias, por sua vez eram construídas no dia-a-dia. Momentos que só se sabiam memoráveis depois de acontecidos, de tão simples, cotidianos que pareciam. Eram como filmes anti-climáticos, verborrágicos de Richard Linlaker ou Erich Rhomer nos quais o todo é importante, não apenas um determinado momento. Talvez o fato de conterem em si o potencial de repetição tirasse desses momentos a urgência e a beleza trágica. Mas continham a esperança do retorno. Esperança que podia ser cultivada. Não eram momentos de perdição, mas de certezas (inda que relativas) e repetições. E ás vezes repetir não é ruim.
E assim ia, colecionando memórias. Enquanto tentava mesmo era entender porque repetir (um momento) deveria ser melhor que perder-se (num momento).
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