domingo, agosto 25, 2002

Com a exibição do episódio "A Verdade", na próxima quarta, às 22h, no canal Fox, encerra-se de forma nada honrosa um dos ciclos mais criativos da TV. "ArquivoX", antes um marco, hoje é uma caricatura. Nas últimas temporadas, a série foi vítima dos clichês que criou, da voracidade por bons índices de audiência e até dos próprios fãs.
Quando surgiu, em 1993, ela ia na contramão do sucesso fácil. Fox Mulder (David Duchovny) era magrelo, narigudo e bobão. Dana Scully (Gillian Anderson), baixinha, acima do peso e mal vestida. Os temas? Sobrenatural e ficção científica.
O fracasso era previsível, mas, em poucos anos a série passou de cult a fenômeno. Foi aí que as coisas começaram a degringolar. O elenco ganhou um figurino de primeira, maquiagem decente e outros privilégios advindos dos patrocinadores. E o público passou a pressionar os produtores por um relacionamento amoroso entre Fox e Dana.
Depois de ganhar os cinemas, em 1998, o charme de trabalhar com respeito temas que cairiam facilmente no ridículo, sempre fugindo do óbvio e se esquivando da solução definitiva dos casos, deu lugar a uma tentativa de responder às perguntas abertas pelas conspirações e aliens do imaginário "X". Lentamente, sepultaram o fascínio. A cada revelação bombástica, as respotas eram menos interessantes, previsíveis, contraditórias.
Nos bastidores Duchovny, prevendo a derrocada, exigiu aparecer cada vez menos, forçando os roteiristas a medidas deseperadas como sua substituição pelo agente Dogget (Robert Patrick). Até tentaram introduzir uma nova agente para que o casal central fosse trocado numa possível nova temporada. Não deu certo. A série acaba deixando saudades de seu início, onde ainda era possível acreditar que havia vida inteligente. Não no espaço, mas na televisão.
José Aguiar, no caderno TVFolha de 25/08/2002, Folha


É a mais pura verdade...

Há alguns anos atrás seria impossível acreditar que a série que começou como um marco terminaria como um enlatado. Mas foi o que aconteceu. E pensar que no início o Chris Carter dizia que a série teria apenas 5 temporadas. Se tivesse sido fiel a sua idéia inicial teria terminado no auge, teria deixado uma legião de fãs saudosos (e angustiados pela falta de soluções, mas essa era exatamente uma das principais características da série) e teria deixado uma série memorável na história da tv.

Infelizmente a televisão não é um veículo autoral, não existe para que sejam criadas grandes obras. É basicamente um meio comercial, onde o público pagante (telespectadores e anunciantes) tem o poder de decisão. É interessante lembrar que Jornada nas Estrelas, a série clássica, foi um fracasso e mesmo assim é considerada um marco. O sucesso deturpou (ou pelo menos contribuiu muito para isso) "Arquivo X". É uma pena...

It's not a tv series
It's The X Files!