quinta-feira, junho 07, 2018

Eu fui uma adolescente muito inibida em meus desejos. A relação com o saber era a válvula de escape da libido. Havia um amor ao saber. Cabe reconhecer que fui adolescente, ao menos libidinalmente, até bem pouco tempo atrás. Racionalmente eu já era responsável há muito tempo. O que por talvez causasse estranheza entre a responsabilidade e alguma imaturidade emocional ou sentimental. Ainda essa semana minha analista me perguntou quantos anos eu tenho. De análise são 14 mas talvez eu já esteja perto dos 30 no que tange a libido. Ou dos 39 cronológicos. Não sei. Sei que entre a sensação da inibição - de que algo aconteceria, em termos libidinais e amororos, em um futuro que só me cabia esperar - e da urgência de fazer algo acontecer - independente de mim ou de um outro - parece às vezes que estou chegando a algum lugar no tempo-espaço da estrutura psíquica mais harmonioso, sem grandes atropelos, retenções ou retornos. Ou com todos eles impulsionando o caminho pulsional, um encontro com o objeto, que é um objeto faltoso mas que satisfaz a pulsão que continua em sua aventura pulsional, pulsante, em busca de objeto. Objeto esse que talvez possa se repetir sem ser chato, repetir por desejo.
Mas nesse caminho cabe a escolha de abrir mão da fantasia de um objeto amoroso fantasiado, imaginarizado, quiçá projetado (para usar do vocabulário aprendido exatamente por conta desse objeto, desse apaixonamento - o saber ainda, ou sempre, ronda minha pulsão, mas o amor está em outro lugar, num outro). Abrir mão da pura fantasia, do que existe só na minha realidade psíquica (mas toda realidade não é psíquica?), por uma relação que possa ser com um outro que queira dividir planos, com quem a relação exista não apenas para mim.
Do sofrimento de uma autosuficiência narcísica que não dava conta do meu desejo, passando por uma abertura ao desejo que se provou gozo masoquista (um super eu punidor), à uma fantasia incrível de paixão que bem poderia ser amor. Em busca do amor, acho que é isso.