sábado, novembro 13, 2004

"Tinha nos olhos intenções de quermesse."
Porque tem a ver com o escrito de ontem. E porque é, para mim, um dos mais belos poemas da nossa língua. Quiça de qualquer uma.

Ouvir Estrelas
Olavo Bilac


- Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouví-las, muita vez desperto
E abro a janela, pálido de espanto.

E conversamos longo tempo, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Ainda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: - Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem quando estão contigo?

E eu vos direi: - Amai para entendê-las,
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas!


sexta-feira, novembro 12, 2004

"Desde sempre sentira-se embevecida pelas estrelas. Nunca fora capaz de se orientar por elas, nem mesmo reconhecia o Cruzeiro do Sul, ainda assim era capaz de entender a beleza plástica daqueles milhares de pontos luminozos contra o fundo escuro do espaço. Além disso fascinava-a possibilidade de estar olhando o passado. A idéia era simplesmente que seu planetinha, povoado de poeira cósmica "inteligente", era envolto por uma camada de gazes que criava um espetáculo visual a cada momento. E à noite permitia a viagem no tempo. Pois só como viagem no tempo poderia-se explicar o fato de que ela, no seu presente, olhava o passado daquelas estrelas para as quais era o futuro. Passado, presente e futuro se juntavam no todo momentâneo da sua consciência. Talvez fosse relativo para os outros. Para ela, aquilo era tão real que poderia se perder na fascinação que a tomava ao se sentir participando de algo tão incrível. Era parte, mesmo que ínfima, do universo. E isso já era ser muita coisa..."

domingo, novembro 07, 2004

"Pensava, naquele exato momento, que poderia ser feliz numa ilha deserta. Claro que não uma felicidade sustentada, mas a vida seria melhor. Contanto tivesse o direito de levar pessoas queridas. Abriria mão das facilidades complexas da vida em sociedade, até mesmo da diversidade de pessoas com quem tanto poderia aprender. Não importava, ou antes, se o conhecimento servia apenas para complicar a vida, prefeira a simplicidade. Não da ignorância completa, mas poderia ficar com os conhecimentos essenciais, aqueles baseados em sentidos e sentimentos. Por isso, estava disposta, naquele momento, a ter apenas as pessoas por quem tinha carinho, independentemete de conhecimento e influências. Aquelas de quem gostava sem nem saber direito o porque. Era só que queria. Mas sabia o que esperavam dela."