terça-feira, abril 22, 2008

My Blueberry Nights (Um Beijo Roubado)
Wong Kar Wai, 2007

Às vezes é necessário que nos afastemos de nosso lugar de origem para que possamos ter uma outra percepção do que nos rodeia. Às vezes estar num outro lugar que nos é estranho, que não causa a familiaridade da origem permite a emergência de algo novo em nós mesmos. Talvez o já conhecido evoque mais racionalização e crítica (mas não sem sentimento), e quando estamos diante de algo novo apareça mais o afeto puro, ainda sem muita possibilidade de crítica, pois ainda não conhecemos aquilo que nos aparece.
O (primeiro) filme americano de Wong Kar Wai me fez pensar nisso. Talvez por ter me parecido seu filme mais sentimental, de um diretor cujos filmes sempre me pareceram marcados por sentimentos enormes, mas reprimidos, impossíveis. 2046, seu filme anterior, me fez pensar exatamente na (im)possibilidade do amor. Mas este My Blueberry Nights (cujo título brasileiro é simpático á doçura do filme, na verdade os títulos brasileiros dos filmes de Wong Kar Way são sempre bons) fala exatamente da busca de possibilidades. Começa com um fim de relacionamento, que leva ao um encontro. Norah Jones (que funciona como atriz, sua inexperiência parece ser utilizada pelo diretor exatamente para marcar a experiência de uma jovem inocente, no sentido de não prejulgar, criticar, de tomar as experiências como algo novo, como uma primeira vez, inexperiência cinematográfica vira inocência de olhar sobre o mundo) e Jude Law (maravilhoso, sempre, charmoso, sempre) se conhecem em meio a outras histórias de cada um, principalmente a dela. Mas Norah/Elizabeth vai embora, fazendo talvez a escolha menos usual, tal qual escolher a blueberry pie do título. Se aventura sozinha na América, não fugindo de uma nova história de amor (mantém cartões postais que contam sua vida para Jude/Jeremy), mas como se fosse necessário procurar algo de si mesma ao se aventurar, para poder retornar e começar um novo amor. Para que este seja realmente novo. A aventura, o risco, está na viagem, na solidão, na falta de certezas marcadas. Mas o que aparece nessa viagem são os encontros de outras pessoas, de outras possibilidades, espelhos que permitem a Elizabeth se reconhecer e descobrir nas diferenças de reflexo. E ao final, bem, ao final descobrimos nós que Wong Kar Wai também se permitiu uma nova escolha, talvez um momento de se reconhecer no reflexo do espelho americano e fazer um conto mais doce que os seus anteriores. Talvez um olhar inocente sobre uma outra cultura tenha permitido uma expressão mais sentimental que reprimida (ainda que essa repressão fizesse transbordar o sentimento, espelhando, permitindo identificação e encantamento...). Diferente, ainda que sendo a mesma base. Agridoces noites, mais doces... :-)

domingo, abril 20, 2008

Um dia, assim, meio do nada, quase sem querer (mas querendo, sempre querendo), você conhece alguém interessante. Não precisa ser o menino mais lindo, o homem mais charmoso e inteligente da festa. Mas é ele quem chama a sua atenção, ele faz você imaginar e querer. Ao mesmo tempo que faz não saber o que falar, não saber sustentar um olhar. Situações de comédia romântica. Mas o outro pode não entender de comédias românticas e te (me) achar uma simples idiota.
Coisas da atração, esse estranho poder interno que nos permite o encantamento com o outro e sobre o qual eu não tenho mínimo controle. Mas vivo a tentar controlar...