sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Crime Delicado, filme de Beto Brant, é a crítica à crítica. O crítico de teatro e arte em geral, bela atuação de Marco Ricca, parece não entender a paixão que move o artista. Olha a arte de forma tecnica, acadêmica. Parece viver também dessa forma, tanto que quando se apaixona não entende bem o que lhe acontece e não sabe o que fazer com aquele sentimento, toda aquela necessidade. Acaba por cometer o tal crime, delicado por ser um ato de amor, mas um amor mal entendido pelo próprio amante. Talvez como o crime de Benigno, o enfermeiro de Fale com Ela, que estupra uma mulher em coma movido por amor - belíssimo momento de Almodovar que nos faz entender Benigno e ter compaixão por ele, apesar do crime ediondo. Mas em Crime Delicado não temos compaixão pelo crítico, mesmo porque parece lhe faltar paixão. A paixão de que fala parece mesmo mais falada que sentida. Parece lhe faltar a mesma expressão de paixão que falta a suas críticas.
E críticas podem ser escritas apaixonadamente, creio eu. Quase Famosos mostra isso. A Contra Campo é um exemplo contínuo disso. Mesmo as críticas mais fundamentadas e técnicas sempre guardam um olhar de alguém que vê filmes por puro prazer, quiçá necessidade. Acho que escrever críticas deve ter a ver com essa paixão, com essa necessidade de mais um momento de contato com a obra, a necessidade de transbordar em palavras toda a emoção sentida nesse contato. Nas poucas vezes que escrevo algo sobre filmes, músicas, faço por pura necessidade. Creio que por paixão.
Crime Delicado me pareceu um belo filme sobre a crítica estéril e a arte transbordante de paixão e necessidade (no lindo monólogo do pintor).