domingo, agosto 14, 2005

A perda da inocência
A crise ocorre quando nos damos conta de fatos que ocorrem há muito mas que nos incomodam. A corrupção sempre existiu (não é?) mas dessa vez incomodou alguém. Será que nos incomoda? Eu me sinto incomodada quando sei que se pagava R$30.000 para que deputados votassem nas emendas do governo, quando nós pagamos os deputados para representar a nós. Idem com o governo. E quando falta dinheiro na saúde, para falar só da área que conheço. E quando a educação não educa ninguém, pois forma semi-analfabetos acríticos. Mas isso talvez não seja falta de dinheiro e sim de interesse. Porque, um dia (sou otimista) seremos um povo (sim, acredito na idéia de um coletivo, afinal, o Brasil não é umpedaço de terra limitado pelo Atlantico e de um lado e outros países da América do Sul de outro. O Brasil é o povo que aqui vive, que fa zessa terra viva) crítico, capaz de perceber que uma das maiores denúncias dessa crise tem menos a ver com PT ou Lula, tem a ver com todos:
Se o PT precisou comprar um publicitário e partidos para se eleger isso significa que nosso poder de voto é nulo. Continuamos como na época do coronealismo, iníco do século XX, quando os coronéis pagavam para que as pessoas (na época só os homens, pouco antes só os livres) votassem em quem indicassem. Hoje nosso voto parece dirigido (pela forças da midia) e nem mesmo recebemos o dinheiro. Quem já tem é que recebe.
Sinto como se meu voto de nada valha, já que o que importa é o dinheiro gasto para comprar o melhor vendedor de idéias e os partidos que vão ajudar. Nada de ideais. Nada de representatividade, a nãos er a auto-representatividade da elite.
Nada mudou no mundo. Mas eles nos enganam direitinho com essa história de democracia, república. Mas, quem disse que a Grécia era uma terra de iguais, se só os homens livres votavam? Só essa base histórica para nosso ideais atuais já deveria nos dar a pista...
Diálogos cinematográficos
Existem filmes que dialogam. Os críticos da Contracampo já mostram isso há muito e eu aprendi com eles. Dessa vez eles (ainda) não falaram de dois diálogos que eu pude perceber.
"A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Terra do Nunca" - não, os filmes não têm em comum apenas o fato de ter o (perfeito) Johny Depp como protagonista. Dialogam por falarem de um protagonista adulto que não consegue sair de sua infância (o "mal" de todos nós jovens adultos atuais, o que torna os filmes bem atuais). Enquanto em "Terra" J.M. Barrie é, sim, um adulto mas frustrado (pelos desejos que não se dá o direito de aceitar) e que só encontra alguma satisfação quando envolvido pelo mundo mágico das crianças; em "A Fantástica Fábrica" Willy Wonka simplesmente não cresceu, ainda é o mesmo menino que fugiu de casa para dar a volta ao mundo no museu de Bandeiras do Mundo. Wonka cria seu mundo de fantasia, despreza os outros e chega a ser cruel, tal qual a criança que ainda é. No final podemos imaginar que a reconciliação com o pai (seqüencia mais psicanalitica do que a a debochada cena do Umpa Lumpa freudiano) marca o início da maturidade de Wonka, que parece ter parado lá na pré-adolescencia. Talvez... Mas isso não é o importante, se ele vai "crescer" ou não. Importante é que o filme nos deixa entender que Wonka encontrou seu lugar no mundo sendo quem é: pré-adolescente, um pouco cruel, criador de um mundo de fantasias e gostosuras. Ele não tem medo de ser ele mesmo. Talvez até possa se chatear por ser sozinho, e aí busca solucionar seu problema, mas não deixa de ser Willy Wonka e querer o que bem entende.
E J.M. Barrie? Um adulto, sem dúvida. Teatrólogo, casado (mas filhos...), bem sucedido, ainda que no momento inicial do filme esteja passando por uma crise. Crise criativa, crise no casamento, talvez crise de si mesmo. Barrie é um homem frustrado num casamento que nos parece sem paixão, escrevendo peças pouco inventivas, vivendo uma vida que parece nem mesmo querer. Poderíamos (ou posso eu, com minha visão psiquiátrica) chamá-lo de depressivo. Barrie prefere ficar sozinho com seu cachorro, como se as outras pessoas o importunassem. Até que conhece a família de crianças, com uma mãe viúva. Ele se apaixona por todos e tenta, de forma "adulta", viver essa paixão. Mas parece que ser adulto é siplesmente continuar frustrado, já que Barrie não pode assumir sua paixão pela mãe, pelas crianças e acaba por escrever uma peça como forma de realizar suas fantasias. A questão que fica é: por que diabos Barrie não pdoe realizar seus desejos? Porque tem de continuar frustrado? Será que crescer é aprender a conviver com a frustração auto-impegida? Pois em momento algum Barrie tenta mudar as coisas ele aceita tudo, disciplinadamente, ainda que não gostando de nada.
Então, prefiro Willy Wonka. Ele busca o que quer e parece se encontrar mais que Barrie. Wonka pode parecer meio doido mas não se frustra como Barrie. Se o real é ruim ele cria a fantasia não só em seus pensamentos, eles as faz reais, assume o controle de sua vida. Talvez até de forma mais adulta que Barrie que vive preso a seus pensamentos, em forma de peça...
Faltou falar da violência de Sin City e a de Old Boy. Fica pra depois. (Como diz o Pato Fu)
"Old man dies. Young woman lives. Fair trade."

Fala do Detetive Hartingan (Bruce Willis), no belo Sin City.