quarta-feira, novembro 22, 2006

A Última Noite é um filme sobre o fim de um programa de rádio ao vivo. Mais simpelsmente, é um filme sobre o fim e sobre encarar o fim com dignidade, mais que isso, encará-lo sabendo que iria chegar e que nesse meio tempo, tudo valeu à pena. Na verdade é um filme sobre a vida, o fim sendo só o detalhe que torna viver ainda mais importante. Filme bonito, algo melancólico, belas atuações, belos momentos de vida, de personagens. Mais ainda agora, após o falecimento de Robert Altamn, quando o filme assume mais suas características e fica a parecer um quase epitáfio.
Tem crítica na contra campo.
Mas mais que isso, tem os filmes, a serem vistos e revistos, pensados, sentidos. Isso são as obras dos artistas, ficam além do tempo da vida, ficam e marcam outras vidas. É uma forma de entender transcendência.

domingo, setembro 24, 2006

Despensar

O que diz um ato falho?
O que digo eu ao dizer que despenso?

Digo que não penso?
Ou que penso diferente?
Ou que desejo não pensar?

Não pensar é sempre um desejo
O desejo de abdicar do retorno constante das palavras
Essas nas quais me perco, sem dizer
O que, como na música, mais que palavras poderiam dizer.
Não dizendo.

domingo, setembro 03, 2006

Eu quero um Sonny Crocket pra mim...

Miami Vice
2006, Michael Mann

Primeiro, eu não assisti a série de tv Miami Vice. Tenho uma vaga lembrança do que era. Nem sabia que a música "In the air tonight" tocava na série. Quando tocou nos créditos achei que era mais um momento oitentista do filme. Um amigo me explicou que era uma referência direta a série.
Então, não vi Miami Vice como uma adaptação, mas como um filme baseado numa história que, isso me lembro, tinha fortes cores oitentistas. Talvez uma das séries que ajudou a moldar a década. Dessa forma só posso dizer que gostei muito do filme.
Por manter um clima anos oitenta mas adaptado ao século 21. parece estranho, e parece estranho no filme. É uma sensação de dejá vü, sem referências diretas a década de oitenta (nada a ver com as festas Ploc da vida), mas de forma enviesada, relembrando algumas características. Interessante notar, por exemplo, que a Miami do século 21 não é infiltrada de violência como em 80, se ela é muito mais clean, virtual, tecnológica. Entretanto, ao levar a ação a países da América Latina, Michael Mann consegue retomar a antiga violência. Bairros pobres, homens armados, atitudes violentas mas com ilhas de tecnologia semelhante à de Miami. Surpreende a forma como o diretor e roteirista (e produtor da série original) mostra de forma tão pouco caricata essa realidade "nossa".
O que não surpreende são a fotografia e a montagem. Como em outros filmes de Mann, em especial O Informante e ainda Colateral, estes aspectos da direção são primorosos. A captação da luz, o uso das lentes, a impressão de enquadramento desfocado, dão um toque especial a um filme que seria ?só? de ação. Desta forma Miami Vice é um pouco mais que entretenimento, há um tratamento de imagem diferenciado no filme, perceptível, mas não necessariamente gratuito. As imagens fazem parte e diferença no filme. Lembrando que cinema é, antes de tudo (e do próprio roteiro), imagens em movimento!
A trilha sonora segue o clima anos 80 sem ser anos 80. Moby e Audioslave dão um clima anos 80 revisitado pelo século XXI. Mais uma vez, nada de Festa Ploc, nada de simples regravação e sim um trabalho sonoro que remete á algo retrô.
Agora, os atores. Jamie Foxx nem precisa falar, o homem é ótimo ator. Mas Collin Farrel faz um uso primoroso de uma certa canastrice. Seu Sonny Crocket é qualquer coisa entre o bom canalha e o bom policial, com charme. Muito, muito charme. Suas cenas com Gong Li transbordam sensualidade e afetividade. Basta dizer que ao final do filme eu só pensava: "eu quero o um Sonny pra mim".
Sem comparações com Don Johnson, pois nem lembro como era o seu Sonny. Mas não creio que fosse melhor...

sábado, agosto 26, 2006

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia... e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

domingo, agosto 06, 2006

"Vai, vai, vai, vai, amar
Vai, vai, vai, sofrer
Vai, vai, vai, vai, chorar
Vai, vai, vai, dizer

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor"

Vinícius de Morais e Baden Powell, Canto de Ossanha

domingo, julho 23, 2006

Não sei bem o que é
Nem se é alguma coisa
Pode ser que venha a ser
Também pode ser que não
Mas não custa tentar
E ver no que vai dar...

sábado, julho 08, 2006

Me perco em pensar explicações
relações de causa e efeito
algo que dê conta
do que simplesmente não é
Não é
aquilo que somente poderia ser
aquilo quase foi
o que já era
Para ser é necessário
algum despojamento
de si mesmo
alguma curiosidade
do outro
e todo amor
possível
Para que sejamos
enfim
nós dois
(Por hora sou eu
à procura de um certo você)
Momento de uma sexta à noite.
Ás vezes, quando nada sai como se espera, sentimentos quase mortos tão bem escondidos sob a razão do dia-a-dia, veêm á tona...

Por vezes
queria não me afetar
com aquilo que
nem mesmo me é dirigido

Uma palavra
um gesto
uma não compreensão

Que me ferem
entristecem
quando já não deveriam importar

Pois não me são dirigidos
estes insultos e incompreensões

Não compreende o outro
quem não dialoga
quem não se importa

Por que ainda me incomodo
com quem não se importa?

"In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die ?"
Heaven knows I´m miserable now - The Smiths

domingo, julho 02, 2006

Rendo-me a comoção nacional. Estou triste e revoltada com o futebol apresentado ontem pela tal Seleção Brasileira. Jogavam para que os jogadores? Para ganhar (dinheiro)? Para aparecer? Para ganhar o jogo, nem digo a Copa, não pareceu que fosse. Pelo menos o coletivo não parecia ter esse fim, aidna que alguns jogadores tentassem jogar. Mas jogar sozinho é difícil. E a comissão técnica trabalhava para que? Para ganhar ou porvar que estava certa?
Não gosto de violência, mas reconheço que Felipe Scollari tem garra e desejo de vitória.
Perder não é vergonha. Mas não lutar é.
Para terminar, lembro um texto antigo:
E recomendo o blog do Juca Kfouri.

quinta-feira, junho 22, 2006

"Trocávamos idéias sobre tudo. Submetíamos nossos trabalhos um ao outro. Juntos reformulávamos nossos valores e descobríamos o mundo, ébrios de mocidade. Era mais do que a paixão pela literatura, ou de um pelo outro, não formulada, que unia dois jovens 'perto do coração selvagem da vida': o que transparece em nossas cartas é uma espécie de pacto secreto entre nós dois, solidários ante ao enigma que o futuro reservava para o nosso destino de escritores."
F. S., em Cartas perto do coração, de Fernando Sabino e Clarice Lispector.
Saio do cinema, após ver um filme sobre solidão, encontros e humanidade e entro numa livraria. Me deparo com o livro de cartas trocadas entre dois escritores que falavam sobre esses mesmo temas. Há muito desejava ler o livro. Hoje leio!
Já tem crítica de "Eu, você e todos nós".

E é na Contracampo.

E é do Edurado Valente.

Uh hu!!

terça-feira, junho 20, 2006

Eu, você e todos nós
ou "... danço eu, dança você, na dança da solidão."
Esses pequenos filmes independentes americanos...
São eles, ao lado dos grandes "filmes de verão" e épicos (sim, estes ainda existem) que fazem o dito cinema americano. Este "Eu, você e todos nós", da artista Miranda July é um pequeno filme independente. É um filme sobre solidão. E sobre a busca humana para mitigar essa solidão. Essa busca que por vezes parece sem sentido, sem fim, que se faz compreender apenas naqueles momentos em que um toque, uma presença, um saber que o outro está realmente junto, ainda que geograficamente distante, esses momentos permitem que não nos sintamos sós no mundo. Momentos que são eternos enquanto duram. Quisera ter essa eternidade para sempre...
Filme que também mostra algumas pequenas sordidezes humanas, que se fazem menos sórdidas quando colocadas nesse contexto humano de necessidade e busca. Coisa que lembra Todd Solondz, mas com uma visão mais carinhosa que a dele.
Pequeno belo filme.
Como ainda não tem crítica da Contracampo, deixo a da Folha.

domingo, junho 18, 2006

Então, após um jogo da Copa meio sem graça mas com vitória da Seleção, fiu eu ver um filme em dvd, "O Terceiro Olho". Já via o filme na prateleira da locadora há algum tempo. Namorava ele por conta de ser Ryan Phillipe o ator principal (ele é lindo), mas acabava não levando por não conhecer. Ontem resolvi alugar, afinal tem outros bons atores, como Stephen Rea e uma trama pouco explicada na capa, mas que parecia interessante. O filme é pouco inventivo enquanto cinema, mas o roteiro é bastante interessante, sobre um homem que acorda numa cama de hospital, não lembrando dos dois últimos anos de sua vida. Acompanhamos sua busca pela memória, busca essa cheia de delírios ou viagens no tempo, coisa meio psiquiátrico-metafísica. Não conto mais pois senão perde a graça. Mas é filme para discutir no final.
"And late last night
makes up her mind
another fight
left behind"

There goes the fear, The Doves

No meio da noite de ontem, assistindo tv de forma aleatória, deparei-me com o festival de Glastonbury, edição de 2005. Tido como um dos melhores festivais de rock do mundo. Pensar que eu já fui a um semelhante, chamado Rock in Rio, versão 2001. Pensar que nunca mais houve outra edição, uma pena, pois foi um momento mágico de música e encontro de pessoas. Mas, aí eu paro no festival de Glastonbury exatamente quando tocava uma música muito querida, There goes the fear, do grupo The Doves, em bela versão ao vivo. Depois se sucederam outros novos nomes da cena roqueira atual, ótimos novos nomes, como Keane, The Killers (a banda americana mais inglesa da atualidade), Kasabian, Coldplay, entre outros. Dentre tantas novidades uns tiozinhos no meio, New Order. Interessante que eles tem cara de tiozinhos, de senhores de 40 e tantos, 50 anos, pais de família. Diferentemente de outros nomes tão antigos quanto como o U2 ou até mais antigos, como os Rolling Stones, que parecem se manter jovens para sempre. Mas o importante, a música, continua jovem e contagiante. Ouvir o New Order foi como estar numa pista de dança da década de 80 e isso não tem a ver com velharia. Pelo contrário, tem a ver com a magia da música, que mantém a juventude não pelo visual, que pode ser forjado para manter uma banda na moda, mas pela vitalidade musical. Assistir o New Order tocando "Love will tear us apart", ainda que pela tv, mostrou que pais da família podem ser roqueiros, jovens em seu talento. Essa talvez seja uma das grandes possibilidades do rock, unir gerações pela música, verdadeira. Sem necessitar de imagem!

"Oh simple thing where have you gone?
I´m getting old and I need something to rely on
So tell me when you´re gonna let me in
I´m getting old and I need somewhere to begin"
Somewhere only we know, Keane

domingo, maio 28, 2006

Apesar de tudo, do quanto te conheço, do quanto sei de suas atitudes, não consigo deixar de pensar que poderia ser legal. Que, de alguma forma mágica, a lá comédia romântica, poderia dar certo. A vida não é comédia romântica, pelo menos a minha ainda não foi (mas já foi romance, ainda que um pouco triste, mas ainda assim romance) mas fico imaginando que poderíamos ser legais, um com o outro, um para o outro.
Mas, não tem nada a ver mesmo, então, esse post será minha tentativa de, ao exteriorizar essa idéia, acabar com ela. Não pensarei mais nisso, mas, como diriam os Paralamas...


"Se você lembrar,
se quiser jogar
Me liga, me liga"
Existe um tipo de despojamento que tem a ver com fazer o que se quer sem esperar recompensas. Parece-me que tem a ver com o desejo, aquele que impulsiona, mas não com promessas futuras, apenas com a promessa presente de se ter a satisfação, aqui e agora, daquilo que se quer.
Pode parecer algo egoísta, inconseqüente. Mas talvez não. Porque é necessária uma responsabilização com o nosso desejo. Não há inconseqüência, não há mais lugar para "sem querer". Entendemos que podemos fazer aquilo que bem queremos, contanto que tenhamos responsabilidade por esse desejo e pela realização do mesmo.
Esse momento da responsabilidade consigo mesmo é o que marca a possibilidade de liberdade de querer e fazer. Ainda que esta liberdade esteja sujeitada a toda essa responsabilidade.
"Diz pra eu ficar muda faz cara de mistério
Tira essa bermuda que eu quero você sério
Dramas do sucesso, mundo particular
Solos de guitarra não vão me conquistar
Uh, eu quero você como eu quero "
Como eu quero
Kid Abelha

domingo, maio 21, 2006

Nessa vida a qual me sujeito
só de mim posso saber.
Ainda assim,
há algo de mim que escapa
está além do meu saber
é um não saber
(sabido?).
Do outro
aprendo que nada sei
Mas resta a curiosidade
de saber.
Talvez mera necessidade
de me perder
em você.

quinta-feira, maio 18, 2006

V de Vingança

"People shouldn´t be afraid of their governments
Governments shoul be afrid of people."

Um filme sobre terrorismo, poder e acomodação. Sobre o medo imposto pelo poder que gera acomodação. E sobre a possibilidade, ainda que romanceada no filme, de se ter o poder nas próprias mãos.

Quem é mais terrorista, o PCC ou o governo que paga R$30 mil de mensalão, ganha mais que a maioria da população e não paga devidamente bem policiais que moram ao lado dos traficantes???

"Num beco escuro explode a violência..."
Paralamas do Sucesso

Para uma crítica do filme leia a ContraCampo de sempre e a nova Cinética (crítica do Eduardo Valente!).

sexta-feira, abril 14, 2006

Desinteresse
Parece que sofremos de séria falta de interesse
Um desinteresse calculado
Que é mais um temer o interesse
Do que realmente não querer saber
Ou ainda
Querer e não querer
Querer e não poder
Aceitar
Mudar?
(se é possível...)

segunda-feira, abril 10, 2006

"Diga-se que um dos aspectos mais belos do filme é justamente este de trazer a atualidade do momento sócio-econômico argentino para um drama pessoal. Ou seja, não se trata de fazer um manifesto sobre a crise, não muito menos ignorá-la. Resta ver como ela afeta a vida das pessoas. Como as relações amorosas, familiares ou profissionais são impregnadas por ela. Simplesmente esta capacidade de retratar o seu tempo enquanto ele se desenvolve eleva o filme acima da maior parte da produção latina recente. E tornar a crise cômica e dramática é olhar para ela com os mesmos olhos com que somos forçados a olhá-la todos os dias."
Eduardo Valente em crítica ao filme O Filho da Noiva na ContraCampo, claro.
Esse trecho da crítica do Valente serviria também a Clube da Lua (Luna de Avellaneda), novo filme de Juan Jose Campanella. Tendo novamente como ator principal Ricardo Darin no papel de Román, e Eduardo Blanco como seu melhor amigo Amadeo, Clube da Lua fala mais uma vez da crise argentina. A diferença com O Filho da Noiva é que neste a crise parece ser o principal tema. Mas não é.
Román é sócio vitalício do clube que dá nome ao filme, lugar onde nasceu. Clube que no passado abrigou festas populares, namoros, amizades e que hoje é uma peça de resitência. Resistência da utopia de pessoas que acreditam que crise econômica, por mais que interfira em todos os aspectos do dia a dia, não precisa ser crise de valores, de sonhos, de relacionamentos. Se a economia hoje parece ser soberana e a tudo controlar, os sócios do clube Luna de Avellaneda querem apostar que existem coisas mais importantes que o dinheiro. Querem ser solidários e criar laços afetivos. Querem sonhar com um mundo melhor. E querem poder fazer tudo isso. Mas são cada vez mais assolados por uma visão cínica do mundo. Visão essa válida, como o próprio Roman chega a reconhecer. Talvez esse seja o certo, ser cínico, pensar em ter dinheiro e melhorar de vida (?). Mas o que o belíssimo, ainda que aparentemente simples em sua dramaticidade e emotividade, Luna de Avellaneda tenta falar (ou assim me pareceu) é que ainda pode existir lugar no mundo para sonhos e utopias. Para clubes ondem meninas dançam balé, meninos jogam bola, homens jogam carteado e ninguém quer ficar rico com nada disso. Querem apenas se encontrar, quem sabe à luz da lua...

domingo, março 19, 2006

O que se faz após assistir um documentário que joga na cara aquilo que todos sabemos? Em horário nobre de domingo, na rede global, ficamos sabendo do já sabíamos, que os meninos do tráfico são apenas meninos em busca de um sonho. Só que vivem em pesadelo, sem dinheiro, sem pais, sendo meninos-pais de outros meninos sem pais. Eles buscam o mesmo sonho de dinheiro, de coisas materiais "legais" que todos os outros meninos. A diferença é que a forma que encontram para conseguir isso. Ou não, alguns meninos ricos fazem coisas semelhantes, só que usam ternos de colarinho branco.

Mas e aí? O que fazer?

Assistir Big Brother e esquecer... ?????
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.
Geração Coca-Cola, Legião
Mas aqueles meninos nem chegaram a pensar que poderiam cuspir tudo de volta. Morreram antes, ou melhor, mesmo que não tivessem morrido, não lhes é dada a chance de pensar. Seriam realmente perigosos se isso acontecesse!

quarta-feira, março 01, 2006

Mais um post "off carnaval"
Escrevi sobre a morte de um amor. Mas foi um erro. Amor, paixão, não acaba assim, não pode ser deletada como um arquivo pouco útil e dispendioso de memória. Também não pode continuar gerando tristezas. Talvez transmute-se, muito lentamente, em algo mais sereno. Não sei bem o que, mal sei como. Só sei que a idéia de simplesmente parar de amar foi muito infantil. Continuo, então...
"There goes the fear
Let it go..."
The Doves

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Crime Delicado, filme de Beto Brant, é a crítica à crítica. O crítico de teatro e arte em geral, bela atuação de Marco Ricca, parece não entender a paixão que move o artista. Olha a arte de forma tecnica, acadêmica. Parece viver também dessa forma, tanto que quando se apaixona não entende bem o que lhe acontece e não sabe o que fazer com aquele sentimento, toda aquela necessidade. Acaba por cometer o tal crime, delicado por ser um ato de amor, mas um amor mal entendido pelo próprio amante. Talvez como o crime de Benigno, o enfermeiro de Fale com Ela, que estupra uma mulher em coma movido por amor - belíssimo momento de Almodovar que nos faz entender Benigno e ter compaixão por ele, apesar do crime ediondo. Mas em Crime Delicado não temos compaixão pelo crítico, mesmo porque parece lhe faltar paixão. A paixão de que fala parece mesmo mais falada que sentida. Parece lhe faltar a mesma expressão de paixão que falta a suas críticas.
E críticas podem ser escritas apaixonadamente, creio eu. Quase Famosos mostra isso. A Contra Campo é um exemplo contínuo disso. Mesmo as críticas mais fundamentadas e técnicas sempre guardam um olhar de alguém que vê filmes por puro prazer, quiçá necessidade. Acho que escrever críticas deve ter a ver com essa paixão, com essa necessidade de mais um momento de contato com a obra, a necessidade de transbordar em palavras toda a emoção sentida nesse contato. Nas poucas vezes que escrevo algo sobre filmes, músicas, faço por pura necessidade. Creio que por paixão.
Crime Delicado me pareceu um belo filme sobre a crítica estéril e a arte transbordante de paixão e necessidade (no lindo monólogo do pintor).

domingo, janeiro 22, 2006

Algumas decisões não deveriam ser possíveis, pois são quase desumanas. Decidir, conscientemente, matar alguém, não deveria ser possível. Tal qual decidir, conscientemente ou não, desamar alguém.
A decisão é tão dIfícil que demora. Nos EUA levam-se anos para condenar, definitivamente, alguém à morte.
Eu levei meses para condenar uma história sem futuro ao fim.
E mesmo assim, ainda vacilo.
"Não é fácil
Não pensar em você"

sexta-feira, janeiro 20, 2006

2046 ou "A (im)possibilidade do amor"
Em algum momento de 2046, filme de Wong Kar Way, o personagem principal, Chow, escritor, diz que o amor chega na hora certa. A questão é que a pessoa amada não pode chegar nem antes nem depois disso. Alguns filmes também chegam na hora certa. A tempo de serem experiências catárticas.
Os filmes (a experiência cinematográfica em si) foram e são parte de minha formação. Mais que simples entretenimento, sempre foram uma forma de contato com o mundo. Forma de aprendizado e até de diálogo.
E, algumas vezes, foram forma de identificação.
Como em 2046 e sua história de amores possíveis e impossíveis. Muitas vezes as duas coisas ao mesmo tempo. O único romance que se torna realmente possível, plenamente, não nos é mostrado. Podemos apenas acreditar no relato dele. Todas as outras história amorosas são marcadas pela impossibilidade. Ainda que se tornem reais, possíveis, por algum tempo. Como o relacionamento de Chow e Bai Ling, no qual ela se apaixona, aidna que sabendo que não deveria...
Talvez seja do culpa do tempo que alguns encontros ocorram em momentos errados, antes ou depois.
Talvez não haja culpa. Só o fato da impossibilidade.
Ainda assim 2046 é um filme belo, transbordante de paixão, obrigatório.
Tanto quanto cada amor é belo, transbordante, obrigatório.
Mesmo que impossível.
Para uma crítica balizada, tem o ótimo escrito de meu amigo Jr na contra campo.
"As lembranças são os vestígios das lágrimas."

quinta-feira, janeiro 19, 2006

"Ai que saudade, do céu, do sal, do sol de Maceió"
(Autor desconhecido, pelo menos por mim)
Pouco tempo para sentir saudades, poderiam me dizer. Apenas algumas horas de volta dessa terra simples mas bonita como só.
Mas que disse que saudade tem tempo???
As minhas não têm e por isso canto minhas saudades de um lugar onde fui hospedada com carinho. Onde fui a belas praias, tranquilas, para se nadar junto com os peixes. E outras bravas, com ondas a serem domadas por homens em pranchas. Onde a vida é mais tranquila que neste Rio de Janeiro. Onde não se precisa saber de tudo a todo tempo. Diria que parece haver mais tempo para viver.
Mas isso não faria sentido, pois vive-se no Rio. Talvez a questão seja a vida que nos é ditada pela cultura da qual pode ser difícil desvencilhar-se. Talvez fora das grandes metrópoles seja mais fácil não precisar saber do último desfile do SP Fashion Week, do cult badalado ou onde foi o último tiroteio.
Talvez seja mais fácil ser mais autêntico. Ou não, talvez hajam outras amarras nas cidades menos cosmopolitas. As amarras sociais existem em qualquer lugar onde haja mais de um ser humano, onde haja sociedade.
Mas é bom lembrar que a realidade carioca não é a única. Duvidar das certezas e verdades é sempre um exercício estimulante. Tal qual conhecer novos lugares, pessoas, histórias, fazer amizades.
Permite pensar em possibilidades.
E na perfeição de céu estrelado acima das nuvens que vi ao decolar de Maceió. Imagem de filme.
"Navegar é preciso. Viver não é preciso."
(Fernando Pessoa)