sábado, novembro 09, 2002



Eu sou o símbolo
do I-ching




que símbolo você
é?




Achei esse teste a partir do blog da Cinderela. Resultado perfeito!! Na verdade um dos meus problemas é pensar demais. Eu poderia falar sobre isso, dissertar ou algo do tipo, mas tenho de estudar!! E por isso esse pseudoblog anda tão jogado às baratas (por certo se houvessem aranhas virtuais, daquelas pequeninas e magrinhas que fazem teias nos cantos de casa onde não temos saco de limpar e sempre achamos que ninguém olha mesmo, assim como existem vírus virtuais, haveriam umas aranhasinhas nos cantos desse blog). Eu até tenho tido o que escrever, um ou outro pensamento que vem à cabeça, uma consideração sobre filme que poderia virar uma crítica (não que ande assistindo muitos filmes, mas dos pouquíssimos que assisti tive algum comentário a tecer), ou então falar sobre o fato de que os "vermelhos comedores de criancinha" chegaram ao poder ou lembrar do centenário de Drummond colocando aqui um dos meus poemas favoritos dele. Mas eu tenho escolhido estudar (e trabalhar também, diga-se de passagem). Espero que dê resultado, mas também se não der eu garanto que, de qualquer forma, entre o final desse ano e o início do próximo passo a aparecer mais no meu próprio blog!

Para terminar bem, termino fazendo uma daquelas coisas que gostaria de ter feito. Posto um dos meus poemas favoritos do Drummond...

O Elefante
de Carlos Drummond de Andrade

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado.
Amanhã recomeço.