sábado, fevereiro 23, 2002

Uma Mente Brilhante/A Beautiful Mind

Fui assistir Uma Mente Brilhante esperando um filme oscarizável. Quero dizer com isso que esperava um filme feito para ganhar OSCARs (e não necessáriamente prêmios cinematográficos em geral) e agradar e emocionar o público na medida certa. Devo dizer que encontrei no filme exatamente o que esperava, mas isso não significa que não tenha gostado do que encontrei.

Uma Mente Brillhante parece um filme calculado, sim. Até as emoções são calculadas, de forma a evitar que se torne um dramalhão. Mas ele emociona, de qualquer forma. E como poderia não fazê-lo, contando a história real (mesmo que romantizada) de um homem inteligente, ambicioso mas que no auge de sua vida descobre sofrer de uma doença até hoje sem cura. Uma doença psiquiátrica, que coloca em xeque a sua própria noção de realidade, que o faz duvidar daqueles que mais ama, e cujo tratamento altera suas capacidades intelectuais. Argumento bastante para fazer muita gente grande chorar...

Entretanto, o diretor Ron Howard tenta fugir das emoções fáceis. Mesmo contando a história do ponto de vista do protagonista (um dos maiores trunfos do filme), o matemático Jonh Nash, o filme é por vezes frio. Talvez até seja exatamente por ser narrado em primeira pessoa, talvez parte do distanciamento que a esquizofrenia confere a personalidade de Nash passe para o filme. Ou talvez seja apenas jogo estilístico do diretor.

O interessante é que se às vezes o roteiro parece frio e distanciado, a trilha incidental é sempre grandiosa e presente. O que não é necessariamente bom. Em alguns momentos a música é tão presente que parece destoar de todo o resto, principalmente porque a trilha de James Horner é toda de música clássica, de forma que a história se destaca um pouco do tempo. Notamos que o tempo passa só por causa das roupas dos personagens, que vão se adequando à moda, mas em momento nenhum a música auxilia essa passagem de tempo. Como a mente de Nash que tem dificuldade em se adaptar ao meio externo, a trilha sonora do filme não se adapta ao tempo e é um tanto ao quanto histérica.

Mas, eu comecei dando a entender que tinha gostado do filme, não? E até agora me parece que só critiquei. Bem, é chegada a hora dos elogios rasgados. São dois grandes elogios! O primeiro eu já tinha citado antes, é o roteiro. Ou melhor, o fato do roteiro contar tudo a partir da visão de John Nash. Isso rende um jogo entre fantasia e realidade que confunde e até fascina, além de surpreender. As fantasias de Nash são envolventes e até cativantes, de forma que é fácil entender porque ele se perde nelas. É uma forma de tornar a doença mais compreensível para o espectador, ao mesmo tempo que auxilia também a compreensão de como funciona a mente "matemática", como surgem as idéias que se transformam em equações.

O segundo grande elogio é para Russel Crowe. É uma atuação brilhante a dele, sútil, contida, e perfeita. Ele é um esquizofrênico na tela, desde o início. Esse é um dos seus melhores trabalhos, tão bom quanto o de O Informante, que eu antes considerava o melhor trabalho dele. Jennifer Connelly também atua muito bem, e faz um par muito equilibrado com Crowe. O papel da esposa que tem de segurar a barra de um marido "maluco" poderia cair na caricatura, ou ela poderia simplesmente ser engolida por Crowe, mas isso nunca acontece. Além deles, Ed Harris é sempre uma grata surpresa em qualquer filme e em qualquer papel, protagonista ou coadjuvante, ele sempre se sobressai. O mesmo acontece com o inglês Paul Bettany, cujo Charles se torna um personagem bastante cativante.

Ao final, há a mensagem da superação dos obstáculos e do reconhecimento do talento e do esforço, parecida com a de Apollo 13, dirigido pelo mesmo Ron Howard, que também concorreu ao OSCAR em 1995. Há também a sensação de que assitimos um belo filme, algo inteligente, bem feito, sobre um homem não muito conhecido do grande público mas cujo trabalho foi de grande importância para a história do século XX. O filme pode até suscitar algumas divagações, sobre a importância de se interagir ou não plenamente com o meio social do qual fazemos parte. O filme pode até mudar a forma com a qual encaramos uma pessoa esquizofrênica. Enfim, o filme tem muitas qualidades, algumas até louváveis, edificantes. E eu não tenho dúvidas em recomendar o filme.

Mas serão essas qualidades assim tão louváveis mesmo que tenham sido matemáticamente calculadas para o serem? Esta, é a minha dúvida...

sexta-feira, fevereiro 22, 2002

Um testezinho, já que não sei bem o que escrever.


M * A * S * H

You will marry CHRISTIAN (played by Ewan McGregor) from Moulin Rouge, live in a sparkling elephant at the Moulin Rouge, and spend your days righting wrongs and singing songs because all you need is love (and it helps that it's Ewan McGregregor you're living with ^_^).

What's YOUR M * A * S * H future?



É claro que o fato de ser o Ewan ajuda, em qualquer cenário possível e imaginável... ;-)

quinta-feira, fevereiro 21, 2002

Às vezes parece difícil decifrar as pistas que o destino deixa no caminho.

Parece que em um momento ele te diz uma coisa e logo depois outra. Como uma estrada mau sinalizada, onde as placas parecem não fazer sentido, não levar a lugar algum.

Se você tem pressa em chegar a um destino, nesse momento começa a se sentir cansado, perdido, deseperado até. Parece que tudo conspira contra, que você nunca vai chegar...

Mas, e se na verdade o problema é você, o motorista? Talvez não haja nada de errado com a sinalização e na verdade é você que não consegue entender as placas da estrada.

Talvez seja melhor esquecer um pouco do destino e aproveitar a viagem! Olhar para os lados e ver o caminho, que de repente é belo e você nem notou. Conversar com seus colegas de viagem, descobrir que há amigos entre eles, e, quem sabe, até um grande amor?

Quem sabe depois disso você será capaz de entender as pistas e chegar a algum lugar. Ou talvez você chegue sem notar, quando menos esperar.

Talvez ainda você descubra que nem queria chegar a lugar algum, talvez a própria viagem seja o seu destino final...

Ou você pode seguir para sempre deseperado por não enteder os sinais...

(Falar, escrever, é fácil...)

quarta-feira, fevereiro 20, 2002


Uma das músicas que tenho ouvido sempre, numa base diária.


Feel Flows - The Beach Boys
Carl Wilson/Jack Rieley


Unfolding enveloping missiles of soul
Recall senses sadly
Mirage like soft blue like lanterns below
To light the way gladly
Whether whistling heaven's clouds disappear
Where the wind withers memory
Whether whiteness whisks soft shadows away
Feel flows (White hot glistening shadowy flows)
Feel goes (Black hot glistening shadowy flows)

Unbending never ending tablets of time
Record all the yearning
Unfearing all appearing message divine
Eases the burning
Whether willing witness waits at my mind
Whether hope dampens memory
Whether wondrous will stands tall at my side
Feel flows (White hot glistening shadowy flows)
Feel goes (Black hot glistening shadowy flows)

Encasing all embracing wreath of repose
Engulfs all the senses
Imposing, unclosing thoughts that compose
Retire the fences
Whether wholly heartened life fades away
Whether harps heal the memory
Whether wholly heartened life fades away
Whether wondrous will stands tall at my side
Whether whiteness whisks soft shadows away
Feel goes (White hot glistening shadowy flows)
Feel flows (Black hot glistening shadowy flows)
Feel goes (White hot glistening shadowy flows)
Feelings to grow (White hot glistening shadowy flows)

White hot glistening shadowy flows
White hot glistening shadowy flows
White hot glistening shadowy flows


Da ótima trilha sonora do incrível Quase Famosos.

Não tenho tido muito sobre o que escrever, tem faltado pensamento...

I'm a Wind Spiriti


É o que diz o teste...

domingo, fevereiro 17, 2002

Havia comentado, no dia 12, que não entendia porque "Come What May" não havia sido indicada ao OSCAR de canção. Bem, uma amiga me esclareceu que a música havia sido composta para o filme Romeu + Julieta (do mesmo Baz Luhrmann de Moulin Rouge), em 1996, e por isso não é considerada original pelas regras da Academia.

De qualquer forma, faço outro comentário sobre o mesmo filme: porque não indicaram Baz como diretor? Principalmente porque o filme foi indicado...

Se bem que David Lynch foi indicado como diretor e Mulholand Drive não foi indicado como filme.

Pelo menos há um padrão na falta de sentido da Academia!
Histórias Proibidas e O Amor é Cego

O que um filme tem a ver com outro, alguém deve estar se perguntando. Talvez não muito, além do fato de que os dois tentam fazer rir a partir do grotesco nosso de cada dia. A diferença é que Todd Solondz, diretor de Histórias Proibidas (Storytelling) trata do grotesco comum mesmo, das pessoas medianas e suas taras secretas, seus pequenos pecados, sua forma "normal" de ser cruel, tentando fazer refletir (além de rir). Os irmãos Farrelly (Bob e Peter), diretores de O Amor é Cego (Shallow Hal), fazem rir (e até hoje somente isso) a apartir de cenas um tanto ao quanto mais gortescas, exercitando o politicamente incorreto: piadas com pessoas deformadas de todos os tipos são constantes em seus filmes.

Entretanto, em O Amor é Cego, os Farrelly parecem tentar fazer um filme um pouco menos politicamente incorreto, tentam passar uma mensagem legal, e de alguma forma se tornam ainda mais críticos...

Foi aí que me lembrei de Solondz. Tendo assistdo Histórias Proibidas apenas dois dias antes, tinha bastante presente a sensação causada por um filme dele. Não vou tentar escrever sobre esse filme porque tenderia a ser um plágio da ótima crítica de Eduardo Valente na Contra Campo, onde ele diz o quanto o filme é importante por ser uma autocrítica, uma autoanalise do diretor, que talvez permita a ele se liberar dos rótulos e alçar novos projetos.

Mas, voltando aos Farrelly, o que queria dizer é que, ao tentar fazer um filme mais "bonitinho" eles de alguma forma perderam em graça (há piadas de mau gosto, mas tão conhecidas, como a do gordo que cai na piscina, e previsíveis que não arrancam as gargalhadas sinceras que a cena do "gel" em Quem Vai Ficar com Mary fazia) e acabam parecendo criticar aquilo sobre o qual antes só queriam fazer rir. E é nessa crítica que eles acabam por se assemelhar a Solondz. Só que, enquanto Solondz faz críticas sinceras mesmo que bastante contundentes, as dos Farrelly soam falsas, maquineístas.

Não é impossível acreditar que o personagem principal (Hal, interpretado por Jack Black que foi mais feliz com seu personagem secundário em Alta Fidelidade) ame a Gwyneth Paltrow de 200 quilos, mas é difícil aceitar o que se desenrola ao redor deles: a vizinha bonita que se interessa por ele ao ver que ele não é superficial, o amigo gordinho e baixinho (o Jaso Alexander de Seinfield) que se acha o máximo. Na mesma linha de mensagem, a de que "imagem não importa", Shrek é mais crível e sincero, mesmo sendo um conto de fadas. Talvez exatamente por ser um conto de fadas. O Amor é Cego parece não se decidir entre ser crítico ou leve, ficando no meio do caminho...