sexta-feira, junho 11, 2004

Voltando a escrever sobre filmes

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é o melhor livro da série. E não sou apenas eu que digo, grande parte dos leitores concorda que este é o livro que apresenta alguns dos personagens mais interessantes, revelações importantes e é mais sombrio e menos infantil que os dois anteriores. Os personagens jovens estão crescendo e já começam a apresentar certas dúvidas e sentimentos mais ambíguos (ainda que isso não seja tão explorado, é uma série infanto-juvenil). No todo esse é um bom livro, que você não consegue parar de ler.

E o filme, quem diria, faz, finalmente, juz a série literária. Particularmente até gosto do primeiro filme, é divertido e apresenta bem todos os elementos da série. E tem alguns momentos inspirados, como o da compra da varinha de Harry, em que tive a impressão de ver como poderia ter sido realmente um ótimo filme. Ainda assim, acho que é um bom filme. O segundo, eu discordo da maioria e não acho bom, apenas regular. Talvez não ajude o fato de ser o livro mais fraco da série, o qual chego a achar um pouco lento e cansativo, e isso me pareceu ser transposto para o filme. Significaria que é uma boa adaptação? Não, para mim a boa adaptação é exatamente aquela que toma liberdades, que transforma uma linguagem em outra (no caso, literária em cinematográfica), sem negar a mediação que existe. Isto é, que o que antes era o diálogo entre um escritor e seu leitor, agora se transforma no diálogo entre um escritor, mediado pela visão de um roteirista, de um diretor, de atores, figurinistas e etc, e o espectador. Isso muda muita coisa, e pode enriquecer muito a história, que, sem dúvida nenhuma, não é mais a mesma das páginas do livro, e nem pode ser. Ver uma adaptaçõa cinematográfica de um livro é exatamente ver como outras pessoas leram e entenderam aquele livro, e agora ler e entender aquela obra pela visão destas pessoas, é ver uma outra outra obra. Os dois primeiros filmes da série Harry Potter tentavam, como vários outros filmes baseados em livros, negar isso. De forma que se tornavam meras imagens tentando transcrever as letras dos livros. Alguns gostam disso. Eu não. E é por isso que gostei muito mais deste Prisioneiro de Azkaban. Exatamente porque ele toma liberdades. E olha que nem tantas assim, mas consegue não ser uma adaptação literal e, exatamente por isso, consegue ser uma adaptação melhor e mais fiel, se não aos acontecimentos literais, mas ao espírito do livro, o mais importante.

Me parece que tudo funciona melhor neste terceiro filme. Da atuação do protagonista Daniel Radcliffe, que finalmente toma para si o personagem de tal forma que a dupla de amigos que antes o ofuscava passa quase a coadjuvante, até a música. John Williams estava inspirado dessa vez e música faz parte do filme e lembra o filme. Pequenos detalhes como o jazz (ragtime, para ser mais específica?) ouvido pelo professor Lupin ajudam na construção dos personagens e do filme, como antes não parecia acontecer. E falando em personagens, já tinah dito que esse era o livro com personagens mais interessantes. E é ótimo ver esses personagens sendo vividos por atores que, mesmo não aparecendo muito, marcam esses personagens. Emma Thopson esta hilária como Trelawney, e, veja só, sua Trelawney pode atá ser um pouco diferente daquela imaginada pelos leitores, mas é uma ótima Trelawney. Posso manter agora a visão da "minha" personagem e da personagem dela, sem problemas, só com ganhos. O mesmo ocorre com outros personagens, em especial, com o meu favorito, o professor Lupin. David Thewlis criou um Remus Lupin mais velho, mais sério, mais angustiado que o do livro (e isso ajuda o filme a ser mais sério), mas tão apaixonante e frágil quanto não podia deixar de ser. Perfeito ao ser um pouco diferente daquilo que imaginamos. E isso é ótimo, porque, simplesmente ver aquilo que imaginamos não teria tanta graça. A graça é ver que ainda que um pouco diferente, imaginamos coisas semelhantes na essência. Não esqueço Gary Oldman e seu Sirius Black, aparentemente louco, na verdade amoroso. Não vejo a hora de reve-los, participando mais lá na Ordem da Fenix...

Os atores de sempre também estão bem, talvez até melhor, talvez por terem se sentido mais livres. A direção de Alfonso Cuaron fez toda a diferença para que tudo fosse melhor. O livro ajudou, mas a direção finalizou ao permitir um filme mais solto em sua adaptação, mais sombrio, e até mais real ao vestir os personagens com roupas de "trouxas". As roupas de "bruxos", quer dizer, batas, faziam tudo parecer infantilóide, agora o filme consegue ser mais fantasioso e real, ao mesmo tempo. É como se levasse mais a sério a fantasia que cria e com isso consegue que o espectador também acredite mais. E isso tudo exatamente por ser menos literal...

Então, por fim, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban é um bom filme. Diverte, emociona, surpreende e até faz diferença em comparação ao livro. Ainda que o livro ainda seja melhor. Quer dizer, de repente, quem sabe... Não tem uma coisa que faz falta, para quem leu o livro. A explicação sobre o Mapa do Maroto, acho até que fica subentendida, mas falta um diálogo entre Lupin ou Black explicando para Harry sobre o Mapa, teria sido importante e provavelmente uma cena emocionante. Por isso o livro ainda é melhor. Mas este, sem dúvida, é o melhor filme da série. Até agora e provavelmente até o final. A não ser que Cuaron volte. Ou que J.K. Rowling crie algo de muito surpreendente nos próximos dois livros. Até lá, este fica como o mais mágico de todos!

domingo, junho 06, 2004

Algumas pessoas, amigos de mais tempo, têm perguntado pelas minhas palavras escritas, pelos comentários de filmes e até pelo blog (os poucos que conhecem). E eu tenho me perguntado sobre voltar a escrever.

Preciso.

Mas parece que não consigo.

O tempo falta. Ou talvez não, talvez falte algum ânimo, a disposição para saber abrir mão de algumas coisas (horas de sono?) por outras. Ou falte organização (talvez devesse contrar um consultor para dar jeito na minha vida... E não necessariamente isso ocorreria por causa da consultoria... ;) ). Só sei que quero escrever e não escrevo.

Mas talvez esteja vivendo um pouquinho mais. Esteja coletando dados para escrever alguma coisa. Como se realmente fosse escrever "alguma coisa". Só um blog que tem se transformado em diário on line (coisa que nunca quis).

E coletar dados não é a forma correta de expressar o que faço. Acho que tenho jogado os dados ou vivido o jogo de dados (ainda tenho alguma dúvida com relação ao destino aleatório ou não, por nossa conta ou não). Ganhando, perdendo, empatando. Mas jogando.

E vivendo as minhas próprias teorias. Como a dos "três lados" de qualquer situação. Descubro que sou a pessoa que um dia quis ser, mas que hoje talvez eu queira, e seja, alguma outra pessoa. Ou melhor, que sou todas, ainda que só eu (é, sem multiplas personalidades, felizmente).

Para constar, algo que deveria ter constado no início do ano: Encontros e Desencontros (Lost in Translation), belo filme de Sofia Coppola ("As Virgens Suicidas", também ótimo, sendo que um pouco mais agressivo e um pouquinho menos belo) com um Bill Murray mais que perfeito e uma Scarlet Johasson encantadora na simplicidade. Filme para rir, chorar, lembrar, cantar, pensar e acreditar, que, apesar do mundo não ser perfetio, alguns momentos o são. E se tudo mais não valesse à pena, e até que vale, esse momentos (fugidios como disseram na Contra Campo) já fariam tudo, tudo, valer.

Dois blogs de amigos: Je Suis Abacaxi (esse pouco atualizado, mas vale à pena o que já há escrito) e La Vie en Blues (este para ler sempre).