quarta-feira, maio 02, 2018

Há que se abrir mão de muito narcisismo para estar em uma relação. Há que se abrir mão de ser sujeito todo o tempo para ser também objeto do desejo do outro. Podemos até estar com alguém, transar, casar, namorar e o que mais a cultura defina como algo que se chama de relação. Mas só o despojamento de si, uma capacidade nada cognitiva de rir de si e saber que há uma falta que qualquer objeto pode preencher sem nunca satisfazer totalmente, só assim para elegermos e sermos (quem sabe) eleitos ao mesmo tempo objeto de uma relação amorosa. Só quando podemos nos despojar do lugar de sujeito para sermos qualquer objeto para o desejo do outro que podemos também fazer do outro um objeto do nosso desejo. Claro, há de haver algo de sublime, como no encontro do objeto de arte, que nos captura não em uma relação intersubjetiva, mas de objeto que nos olha enquanto é olhado.

segunda-feira, abril 30, 2018

Os sentimentos são físicos. Sentimos a partir dos sentidos do corpo, na relação com o mundo, na relação eu X outro. Passei muito tempo a me enganar de que os sentimentos eram puramente mentais. Acho que foi uma das minhas defesas à castração. Cada vez mais me percebo em um corpo de sentidos e sentimentos, em relação com outros corpos. A relação, os relacionamentos, ocorrem exatamente desses encontros. Eles podem até ser mediados por corpos eletrônicos, à distância (nosso mundo Black Mirror), mas há de haver encontros. Respondendo a mim mesma (e a um título de filme) de não muito tempo atrás: de pouco serve o amor só em pensamento. O amor só se faz em atos e em relação.