segunda-feira, novembro 03, 2008

Eu, meu irmão e a nossa namorada / Dan in real life



No início deste ano de 2008 um pequeno filme independente fez sucesso nos cinemas brasileiros, capitaneado por uma boa propaganda e críticasidem. Juno contava uma história meio agridoce da adolescente homônimaque engravidava de um rapaz que nem se podia dizer ser seu namorado,de tão imaturo. As saídas encontradas pela adolescente para essa"crise", suas relações com figuras mais velhas, não necessariamente mais maduras que ela, somadas ao olhar irônico, mas ao mesmo tempo doce e romântico sobre aqueles personagens garantiram ao filme sucesso. Some-se a isso a trilha sonora inspirada, folk-independentemeio anos 1970, à lá Belle e Sebastian. Enfim, receita de filme independente americano que incomoda um pouquinho (bem pouquinho, é verdade, um Todd Solodnoz bem leve) mas faz sorrir na medida certa.

E agora temos um filme cujo título brasileiro é "Eu, meu irmão e anossa namorada", indicando a possibilidade de mais uma comédia americana, podendo variar de uma simples bobeira ao estilo revitalizado do escracho do fim da década de 1970 início de 1980 de John Landis e a o grupo de comediantes saídos do Saturday Night Live (John Belushi, Dan Akcroyd, Steve Martin,...), que retornou com o grupo do BratPack (Ben Stiller e companhia, também saídos do SNL, em filmes como O Âncora). Steve Carel, estrela deste "Dan in real life" (o título original já entrega quepode haver alguma coisa menos comédia escrachada de troca denamorada), talvez ajude a pensar em comédia de trejeitos, devido ao seu currículo de filmes de comédia escrachada (Virgem de 40 anos, ...). Mas, qual o que, o filme é na verdade uma comédia romântica, ou comédia de situações! E o fato de ter como atriz principal a francesa Juliette Binoche também faz duvidar da comédia pura. E a dúvida temsua razão pois "Dan in real life" por vezes se aproxima de uma comédia mais refinada, e por isso a citação inicial de Juno. Como o filme"independente" do início do ano, este também tem uma trilha sonoracaprichada, com tom folk-independente, em versão menos adolescente de Sondre Lerche (de quem eu nunca tinha ouvido falar até ler os créditosdo filme, mas que gostei bastante).

Pena que essa aproximação não se concretize, o roteiro é de comédiamesmo, de situações/confusões familiares, com um romance para condimentar. Talvez tivesse passado desapercebido, talvez tivesse sidolançado diretamente em vídeo no Brasil (tenho me surpreendido na locadora com pequenos bons filmes que chegam direto lá), talvez nem tivesse sido grande coisa, não fosse um detalhe, ou alguns: a atuação de Steve Carel, e de quebra de todo o elenco. Se em algum momento osprodutores pensaram que o diferencial do filme seria a presença francesa de Juliete Binoche, ao final devem ter visto o quanto se enganaram. Juliete não faz feio, mas sem dúvida é muito menos "francesa" do que se poderia imaginar. Isso não é novidade, é a mesma distorção que o cinema americano fez com Penélope Cruz, que precisouvoltar à Espanha, guiada por Almodóvar, para voltar a ser espanhola. Mas se Juliete não rouba o filme com seu charme francês, pelo menos éguiada por ele pelo charme americano de um Steve Carel (as críticas do final de semana já fizeram, mais uma vez, o paralelo dele e JimCarrey, outro comediante que também se mostrou ótimo em personagens dramáticos) adorável no papel do Dan do título, um americano "de nível superior", intelectual, escritor, viúvo com 3 filhas, que sempre sabe o que é o certo, sempre racional, mas que se vê arrebatado pela emoção de um encontro, de um enamoramento por uma desconhecida, numa livraria. O fato previsível de que esta desconhecida é a tal namorada do irmão (já entregue em no título brasileiro) e toda a série também previsível de eventos que acontecerão a partir daí não incomodam a nossa inteligência de espectador pelo simples fato de que já estamos, talqual o Dan de Carel, arrebatados pela emoção, pelo encantamento comaqueles personagens adoráveis, em espacial pela doçura dainterpretação de Carel. Deixamos a razão de lado, perdoamos as saídas fáceis do roteiro e tal qual parece ter feito o diretor do filme, nosdeixamos levar pela emoção do encontro de atores fazendo nada além de boas atuações em um pequeno filme salvo por eles do esquecimentocompleto. De pequenos encontros furtivos e emoções também se fazem filmes, que mesmo não incomodando tanto quanto os "independentes" (porque esses têm de ter roteiros sérios, que abordam temas"polêmicos"), podem fazer sorrir e até pensar um pouquinho no quanto fazemos planos e esquecemos de nos surpreender. Surpresas que podemestar numa comédia quase boba recheada de atuações adoráveis! Como navida real, pessoas aparentemente bobas podem ser adoráveis e surpreendentes.