sexta-feira, abril 20, 2018

Uma carta não enviada.

Rio de Janeiro, 26 de novembro de 2017.


Mais uma vez, mais um sábado à noite (na verdade já é madrugada de domingo aqui no Rio. Há uma semana, na sua cidade, ainda seria sábado) e eu me vejo escrevendo por sua causa. Vale a pena, literal e figurativamente.
Da outra vez eu me vi escrevendo um inventário dos meus amores em uma noite de lágrimas pela certeza de que você tinha um relacionamento. E que isso significava que qualquer fantasia e qualquer tentativa de contato minha não serviam de nada.
Ah, o tempo me provou errada em meu sintoma ansioso e sempre negativo.
O tempo me provou errada das melhores maneiras.
Entre te conhecer do nada, em um almoço atrapalhado, após tê-lo percebido em uma aula, até o convite para a pizza, com aquele vinho horrível que era o único do restaurante (mas o melhor vinho horrível que já tomei), passando por adicioná-lo no Facebook (estamos em 2017), chegando ao que foi passar o final de semana com você, nem as minhas melhores fantasias deram conta do que foi tudo isso. E olha que fantasiar é algo que eu acho que sei fazer. E eu fantasiei muito estar com você. Ainda assim, o encontro real foi melhor que o imaginário. Não foi perfeito, pois eu teria ficado todo o tempo com você se pudesse (você não pôde ou não quis), mas do que foi, do que se deu em 3 dias ou quase 72 horas exatas (de meia noite e meia de sábado a meia noite e meia da terça-feira), conto como talvez os melhores dias até hoje.
O melhor encontro sexual, sem dúvida alguma. Da intensidade à facilidade do contato físico, passando pelo fato, talvez comum para muita gente mas não para mim, de que me senti completa no sexo com você. No sentido do registro clichê de que foi como se tudo se encaixasse. Você me tomou da forma que nenhum outro homem antes me tomou e eu respondi de formas que eu nem sabia que sabia fazer. Foi incrível e ótimo e eu poderia ter ficado naquela cama todo o tempo, contanto fosse com você.
Você é a primeira pessoa de quem eu pensei: eu ficaria numa ilha deserta com ele. Só com você. (Quanto clichê, deve não ser, cantariam Los Hermanos. E não foi, dou spoiler nesse adendo da releitura de abril de 2018.)
O que me leva a lembrar que não foi só o sexo, ainda que ele tenha sido um diferencial. Do qu al talvez já houvesse indícios na atração que acho que se deu ainda em uma outra cidade, que não aquelas onde moramos. Ou eu sobrevalorizei seus olhares, o próprio convite da pizza, você ter ficado próximo até que eu entrasse no táxi para a rodoviária? Isso tudo foi só um interesse menor de alguém extrovertido, como você bem gosta de se classificar/diagnosticar?
Não foi só o sexo. Foram o chope, os cafés, as conversas, o quanto fazendo tudo isso eu me sentia confortável com você. Foi ficar nua com você e nem cogitar alguma vergonha, algum comportamento inibido, pudico. Foi natural e bom ficar deitada nua ao seu lado. Ou em um momento menos intenso, trocar de roupa na sua frente. Esse texto tem um tom piegas, quem sabe eu o reveja. Mas talvez seja piegas e ridículo, como todas as cartas de amor já defendidas por Pessoa.
Eu mandei uma mensagem de madrugada dizendo estar sentindo saudades. Ação tão pouco racional e tão sincera, pois naquela noite, depois de 14 horas com você, eu me senti sozinha naquele quarto de hotel, acompanhada só das memórias mentais e físicas da sua presença no quarto e em mim. Acho que eu nunca senti falta assim de alguém específico. Já me senti sozinha, já quis estar com alguém,  já estive, mas você foi a personificação sustentada desse alguém. Não tive dúvidas enquanto estive com você. Uma obsessiva que não teve dúvidas...
Foram os risos, as histórias contadas, foi assistir sua aula – e aqui eu paro para dizer como admiro você intelectualmente e a sua capacidade de organizar pensamentos na aula e a sua disponibilidade genuína para os alunos. Eu teria me apaixonado pelo professor, se tivesse sido sua aluna (isso seria projeção?). Foi você me convidar para falar na sua aula. Pode ter sido pela sua extroversão fazer esse convite inusitado, mas para mim foi uma honra. Eu me senti parte de algo seu, como numa cumplicidade. Pode ser exagerado, mas foi como senti.
Sentir talvez seja um verbo essencial nessa história romântica de poucos dias (alguns mais se considerarmos todo o flerte virtual). Eu voltarei aí o quanto antes se você me quiser. Simples assim.