domingo, setembro 03, 2006

Eu quero um Sonny Crocket pra mim...

Miami Vice
2006, Michael Mann

Primeiro, eu não assisti a série de tv Miami Vice. Tenho uma vaga lembrança do que era. Nem sabia que a música "In the air tonight" tocava na série. Quando tocou nos créditos achei que era mais um momento oitentista do filme. Um amigo me explicou que era uma referência direta a série.
Então, não vi Miami Vice como uma adaptação, mas como um filme baseado numa história que, isso me lembro, tinha fortes cores oitentistas. Talvez uma das séries que ajudou a moldar a década. Dessa forma só posso dizer que gostei muito do filme.
Por manter um clima anos oitenta mas adaptado ao século 21. parece estranho, e parece estranho no filme. É uma sensação de dejá vü, sem referências diretas a década de oitenta (nada a ver com as festas Ploc da vida), mas de forma enviesada, relembrando algumas características. Interessante notar, por exemplo, que a Miami do século 21 não é infiltrada de violência como em 80, se ela é muito mais clean, virtual, tecnológica. Entretanto, ao levar a ação a países da América Latina, Michael Mann consegue retomar a antiga violência. Bairros pobres, homens armados, atitudes violentas mas com ilhas de tecnologia semelhante à de Miami. Surpreende a forma como o diretor e roteirista (e produtor da série original) mostra de forma tão pouco caricata essa realidade "nossa".
O que não surpreende são a fotografia e a montagem. Como em outros filmes de Mann, em especial O Informante e ainda Colateral, estes aspectos da direção são primorosos. A captação da luz, o uso das lentes, a impressão de enquadramento desfocado, dão um toque especial a um filme que seria ?só? de ação. Desta forma Miami Vice é um pouco mais que entretenimento, há um tratamento de imagem diferenciado no filme, perceptível, mas não necessariamente gratuito. As imagens fazem parte e diferença no filme. Lembrando que cinema é, antes de tudo (e do próprio roteiro), imagens em movimento!
A trilha sonora segue o clima anos 80 sem ser anos 80. Moby e Audioslave dão um clima anos 80 revisitado pelo século XXI. Mais uma vez, nada de Festa Ploc, nada de simples regravação e sim um trabalho sonoro que remete á algo retrô.
Agora, os atores. Jamie Foxx nem precisa falar, o homem é ótimo ator. Mas Collin Farrel faz um uso primoroso de uma certa canastrice. Seu Sonny Crocket é qualquer coisa entre o bom canalha e o bom policial, com charme. Muito, muito charme. Suas cenas com Gong Li transbordam sensualidade e afetividade. Basta dizer que ao final do filme eu só pensava: "eu quero o um Sonny pra mim".
Sem comparações com Don Johnson, pois nem lembro como era o seu Sonny. Mas não creio que fosse melhor...