sexta-feira, março 11, 2005

"... Será que a ficção apenas suga a realidade, na vã tentativa de oferecer sentido, o sentido das palavras, àquilo que não faz e nem pode fazer nenhum sentido? Será?"
De cada amor tu herdarás só o cinismo, de Arthur Dapieve

E Dapieve escreve num misto de Nick Hornby, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca. Uma salada que rende um livro a ser lido de uma só vez. Ah, ainda tem um capítulo que eu, que não sou conhecedora, achei ter algo a ver com o jornalismo gonzo. Salada interessante sobre o universo masculino.
Escrevia na terceira pessoa, talvez menos por escolha estilística e mais por pura timidez ou medo. Mesmo ao escrever ficções tinha medo do quanto de si estava ali, do quanto estava entregando dos seus sentimentos, paixões e pensamentos, ainda que aquela primeira pessoa fosse ser entendida por todos como uma personagem. Mas era também ela mesma. Não poderia escrever na primeira pessoa uma personagem que sofria com a frieza do amigo quase amante. Uma personagem tão medrosa quanto ela mesma, que não era nem mesmo capaz de admitir que sofria pela perda do quase amante, um pouco mais do que pela distância do amigo. Mas que se resigniva nesse de lugar de não admitir o que sentia. E nesse lugar de definir papéis por "quases", pura inconpetência para admitir o que realmente queria que fosse. Mas, ainda assim, podia dizer que era só uma tentativa estilística de escrever uma personagem tímida. Não era ela, não é?

quinta-feira, março 10, 2005

"O que faz alguém escolher um meio de comunicação do qual desconfia quando bem poderia chamar para um papo ao pé do ouvido no corredor? A idéia de que o corredor talvez estivesse, na cabecinha daquela Danna Scully da Carlos Góes, infestado de microfones conectados diretamente à sala de Umberto Milano arrancou de Bernardino o primeiro sorriso desde que aquele pipocar de mensagens começara."
De cada amor tu herdarás só o cinismo, de Arthur Dapieve.

Dapieve, em sua prosa simples, quase parecendo simplista, consegue no seu primeiro romance passar além da enxurrada de referências a cultura pop e enxergar também um pouco dos relacionamentos no século XXI (que no fundo não devem ser assim tão diferentes daqueles do século XII: homem e mulher, ou seja duas pessoas, que se querem e todo o resto de si mesmos e do mundo a atrapalhar). Não, não é Nick Hornby, mas consegue prender a gente ao livro. Como nas suas crônicas.
"Matar uma pessoa para defender uma idéia, não é defender uma idéia. É matar uma pessoa."
Nossa Música, filme de Jean Luc-Godard, em cartaz

domingo, março 06, 2005

Nick Hornby escreve (muito bem) sobre a cultura pop e sua influência na vida dele. Creio que gosto de seus livros porque me identifico com isso. Quinta-feira passada, convalescente de uma intoxicação alimentar, assistia tv à tarde com meu irmão e tive o prazer de poder ver Arquivo X. E ainda um dos poucos episódios da séries Clássica (1a a 5a temporadas, 6a e 7a ainda podem ser consideradas) que não tinha visto: O Serafim. Belo episódio, centrado na Scully, sobre fé. Me fez pensar nas diferenças entre religião e ciência a partir dos embates entre Mulder e Scully. Impagável ver Mulder sendo o cético da "relação". E também em como não fé e religião podem não ter nada a ver. E que fé pode ter muito a ver com ciência como no caso de Mulder e sua crença nos "homenzinhos cinzas" e própria fé de Scully que não é compreendida pela própria Igreja Católica. É por isso, porque sempre me fez pensar e descobrir fatos novos, que adoro essa série, esse produto da cultura pop. Faz parte da minha vida...

It's not a tv series
It's The X Files