sexta-feira, janeiro 20, 2006

2046 ou "A (im)possibilidade do amor"
Em algum momento de 2046, filme de Wong Kar Way, o personagem principal, Chow, escritor, diz que o amor chega na hora certa. A questão é que a pessoa amada não pode chegar nem antes nem depois disso. Alguns filmes também chegam na hora certa. A tempo de serem experiências catárticas.
Os filmes (a experiência cinematográfica em si) foram e são parte de minha formação. Mais que simples entretenimento, sempre foram uma forma de contato com o mundo. Forma de aprendizado e até de diálogo.
E, algumas vezes, foram forma de identificação.
Como em 2046 e sua história de amores possíveis e impossíveis. Muitas vezes as duas coisas ao mesmo tempo. O único romance que se torna realmente possível, plenamente, não nos é mostrado. Podemos apenas acreditar no relato dele. Todas as outras história amorosas são marcadas pela impossibilidade. Ainda que se tornem reais, possíveis, por algum tempo. Como o relacionamento de Chow e Bai Ling, no qual ela se apaixona, aidna que sabendo que não deveria...
Talvez seja do culpa do tempo que alguns encontros ocorram em momentos errados, antes ou depois.
Talvez não haja culpa. Só o fato da impossibilidade.
Ainda assim 2046 é um filme belo, transbordante de paixão, obrigatório.
Tanto quanto cada amor é belo, transbordante, obrigatório.
Mesmo que impossível.
Para uma crítica balizada, tem o ótimo escrito de meu amigo Jr na contra campo.
"As lembranças são os vestígios das lágrimas."

quinta-feira, janeiro 19, 2006

"Ai que saudade, do céu, do sal, do sol de Maceió"
(Autor desconhecido, pelo menos por mim)
Pouco tempo para sentir saudades, poderiam me dizer. Apenas algumas horas de volta dessa terra simples mas bonita como só.
Mas que disse que saudade tem tempo???
As minhas não têm e por isso canto minhas saudades de um lugar onde fui hospedada com carinho. Onde fui a belas praias, tranquilas, para se nadar junto com os peixes. E outras bravas, com ondas a serem domadas por homens em pranchas. Onde a vida é mais tranquila que neste Rio de Janeiro. Onde não se precisa saber de tudo a todo tempo. Diria que parece haver mais tempo para viver.
Mas isso não faria sentido, pois vive-se no Rio. Talvez a questão seja a vida que nos é ditada pela cultura da qual pode ser difícil desvencilhar-se. Talvez fora das grandes metrópoles seja mais fácil não precisar saber do último desfile do SP Fashion Week, do cult badalado ou onde foi o último tiroteio.
Talvez seja mais fácil ser mais autêntico. Ou não, talvez hajam outras amarras nas cidades menos cosmopolitas. As amarras sociais existem em qualquer lugar onde haja mais de um ser humano, onde haja sociedade.
Mas é bom lembrar que a realidade carioca não é a única. Duvidar das certezas e verdades é sempre um exercício estimulante. Tal qual conhecer novos lugares, pessoas, histórias, fazer amizades.
Permite pensar em possibilidades.
E na perfeição de céu estrelado acima das nuvens que vi ao decolar de Maceió. Imagem de filme.
"Navegar é preciso. Viver não é preciso."
(Fernando Pessoa)