domingo, novembro 17, 2002

E depois de meses a base de (poucos) filmes do cinemão americano, finalmente eu assisti algo diferente e que me fez escrever...

Não deixem de ver esse filme!!

Fale com ela

É difícil escrever comentários quando muitos já o fizeram. A tendência de repetir o que já foi dito, de perecer um (imperdoável) plágio, é enorme. Mas "Fale com ela" é um filme que nos instiga a falar sobre ele, mesmo que correndo riscos. É um filme cheio de emoção, apaixonado e apaixonante, que fala sobre amor (do mais doentio, mas ainda assim amor, ao mais resignado, contido e racional), paixão e tragédias de forma sincera, real e ao mesmo tempo poética.
Se pensarmos na base da história - os laços que unem duas mulheres em coma num hospital e os dois homens que cuidam delas - facilmente imaginamos um dramalhão piegas de sessão tarde, pela carga dramática que permeia todo o filme. Mas o roteiro e a direção de Almodovar (e ainda o ótimo elenco) se utilizam das tragédias, das situações-limite e mesmo das situações caricatas (como a do filme mudo) para falar das emoções reais, das relações reais, dos dramas reais. Mais do que tudo, fala sobre a solidão real, da necessidade que temos de encontrar alguém com quem dividir nossa vida, nosso pensamentos, nosso eu. E da dificuldade que existe para encontrarmos essa tal pessoa, pois ao querermos dividir a nossa existência temos de estar preparados para aceitar parte da existência do outro.
É difícil não chorar durante todo o filme, tal é a carga emotiva que envolve o espectador em cada cena. Talvez a mais bela seqüência do filme, talvez uma das mais belas dos últimos tempos, seja a da primeira tourada quando Lidia enfrenta o touro como se duelasse com o homem por quem é apaixonada (que está na platéia) ao som de "Por toda a minha vida" de Jobim e Vinícius (por sinal, a trilha sonora é linda do início ao fim...). Quase impossível não se emocionar, não sentir a paixão e o sofrimento da personagem...
Por fim, eu achava que "Tudo sobre minha mãe" era a obra-prima de Almodovar, que depois dele todos seus filmes pareceriam "menores". Ledo engano, pois este "Fale com ela" é no mínimo tão bom quanto o anterior, talvez só não seja melhor porque aquele já foi, como dito por muitos, uma obra-prima.