sexta-feira, dezembro 19, 2008

"E aos 29 com o returno de Saturno
Decidi começar a viver..."
29, Legião Urbana

De repente, antes tarde do que nunca, você descobre que não sabe amar e que precisa aprender, porque a vida começa a ficar muito chata centrada só em você mesma. Você finalmente entende que as pessoas morrem e que você realmente não tem poder para impedir a morte. Nem a dor e a tristeza, que não são mais sentimentos advindos da razão ou da arte, mas forças próprias que tomam seu corpo. Talvez o amor seja uma dor feliz e você precise apenas se aventurar. Definir-se menos pelo que faz e mais pelo que sente. Viver sonhos ao invés de sonhar a vida.
Que venha 2009 e meus trinta anos. Quem sabe eu me livre dos meus próprios clichês.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

E se fosse verdade...

Se fosse verdade, como no filme, que o desencontro fatídico do amor não impede a sua realização? E que um novo encontro acontece, sempre, como uma segunda chance?
Se isso fosse verdade o paraíso também poderia ser. E avós iriam para lá...

A gente tem que acreditar em algumas coisas.

domingo, novembro 30, 2008

Quando se atreveu a sair de casa, após dias enclasurada junto a tristeza, melancolia, choro e falta de apetite, descobriu que o mundo a sua volta continuara rodando, apesar de todo o seu sofrimento. Ele lhe deixara só, após 5 anos de vida conjugal. Conjugal, isto é, vida conjugada. Ela conjugara a sua vida a dele. Dedicara-lhe seu amor, sua atenção, seu tempo, sua decisões. Deixara de ser independente para se tornar dele. Por cinco anos se sentiu uma personagem de romances românticos, uma mulher cuja vida dependia do homem de sua vida. Vivera feliz, da forma como durante anos, cética, duvidara que houvesse fora dos romances e filmes. Adorava dizer que ele era "seu senhor", num chiste que carregava toda verdade de seu sentimento de entrega.
Mas ele foi embora. Dizendo que amava mas que estava insatisfeito, triste, em crise de 37 anos. E ela nem conseguiu odiá-lo. Só chorou. Lembrou-se de uma sensação infantil, de abandono, um medo que devia ter sentido quando bebê. Ele lhe proporcionara os dias mais felizes de sua vida, para terminar com os mais tristes. Uma semana de tristeza profunda, de Tylenol diário para dor de cabeça, de pensar em um Rivoltril para fingir esquecer. Mas ela não era do tipo que queria esquecer. Queria chorar, chorar, chorar, imaginando que aquilo tudo fosse um pesadelo, que iria acordar para encontrá-lo dormindo ao seu lado, como sempre. Como nunca, a partir de então.
Chorou por sete dias, amparada pela família, amigos e pelo Tylenol. Se alimentou de chocolates da Kopenhagem, um prazer que era puro gozo, pois comia desejando vê-lo adentrar o apartamento e sorrir dizendo que então era assim, facilmente substituído por um bombom de licor, e então abraçá-la e beijá-la, dizendo que nunca mais cometeria o desatino de deixá-la.
Ele não apareceu, escreveu 3 emails e uma mensagem de celular perguntando se ela estava bem. Ela respondeu apenas, Não. Com amor., e um verso de Against all Odds, porque nenhuma canção mais elaborada vinha a sua cabeça como traduação da sua dor. "As canções mais tolas, tendo seus defeitos, sabem diagnosticar, o que vai no peito." Ela já lhe citara os versos de Lulu Santos, sabia que ele entenderia os de Phil Collins, mesmo não gostando muito de nenhum dos dois. Agora, pelo visto, também não gostava muito dela.
Mas hoje ela precisava trabalhar. Não podia mais faltar. Não podia arriscar perder seu emprego, após perder o amor. Vestiu-se da melhor forma possível, para parecer melhor do que estava, o que acabava entregando tudo de forma contrária. Chorou um pouco na frente do espelho, desejando de forma mágica que aquelas fossem as últimas lágrimas. A dor em algum lugar no meio do seu corpo a lembrava de que ainda seriam necessárias muitas lágrimas para aplacar aquilo que parecia um buraco interior. Engraçado como se pode sentir dor só emocional. Não havia lesões, machucados ou cortes aparentes no seu corpo. Mas em algum lugar, nem bem interno, nem bem externo, no corpo mesmo, só que sem aparecer, ela estava simplesmente despedaçada. Quando se doa si próprio a um outro e esse outro um dia simplesmente vai embora de você, é como se o corpo se esvasiasse, como se fosse só uma fantasia, uma capa, a ser preenchida. Ele a prenchera durante cinco anos. Mas, como com o Elefante de Drummond:
"caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado. "
O amor dele fora sua cola, mas secara. E agora, ainda que desomoronada e catando pedaços emocionais de si mesma, precisava recomeçar. E o amanhã já era hoje.
O mundo, na sua microsfera carioca, não esperava por ela, as pessoas passavam sem nem mesmo notar-lhe os olhos vermelhos, as lágrimas furtivas. Sozinha de novo, teria de se haver com a sua vida inserida nesse Rio, onde até o sol e o céu azul pareciam desdenhar de seu sofrimento. Tinha um ônibus para pegar.

sábado, novembro 29, 2008

"Por uma estranha alquimia, você e outros elementos..."
Quase - Caetano Veloso

Quero escrever um texto que sublime meu sentimento. Transformar em palavras um querer, desejo de encontro, descoberta de um novo alguém. Isso que faz sorrir à toa e incomoda ao mesmo tempo. Que faz ansiar que o outro também queira, se interesse. Fantasiar possibilidades. Sonhar acordada. E dormindo. Um querer que se baseia em um quase nada.
Continuo tentando...

domingo, novembro 23, 2008

Romance

Se "Eu, meu irmão e nossa namorada" (o título original é tão melhor...) se faz interessante a partir da atuação de Steve Carel, pode-se, e não ao mesmo tempo, dizer o mesmo de Romance e a atuação de Wagner Moura. Romance, diferente da comédia quase água com açúcar americana, é um bom filme, talvez ótimo mesmo, com um rotiero inteligente, numa muito interessante união dos estilos multirreferenciais de Guel Arraes e Jorge Furtado, e boas atuações de um ótimo elenco. Elenco ótimo, atuações "apenas" boas? É. Culpa do Wagner Moura, cuja paixão romantica transborda de tal forma pelo filme que deixa todos os outros colegas de cena parecendo meio caricatos, frente a verdade de sua representação. Wagner parece atuar como seu personagem define o amor: verdade e representação ao mesmo tempo. Seja como for, é contagiante, apaixonante vê-lo na tela. Pena que ofusca um pouco os outros em cena. Ou talvez essa tenha sido a meta da direção: colocar os amantes, Pedro e cAna (Letícia Sabatella sustenta muitíssimo bem o par romântico!) como centro de verdade do filme, ou talvez eles também sejam caricatos enquanto representação de um amor tão romântico. O roteiro hiperreferencial joga sempre com a idealização do amor romantico, a partir do mito de Tristão e Isolda, cuja montagem teatral é o mote inicial do encontro dos amantes e base para todo o roteiro.
Um filme mais sóbrio visualmente que o anterior "Lisbela e o Prisioneiro", mas que no fundo segue a mesma linha, num misto de filme com apelo popular mas que nos brinda com algo mais interessante que entretenimento vazio.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Eu, meu irmão e a nossa namorada / Dan in real life



No início deste ano de 2008 um pequeno filme independente fez sucesso nos cinemas brasileiros, capitaneado por uma boa propaganda e críticasidem. Juno contava uma história meio agridoce da adolescente homônimaque engravidava de um rapaz que nem se podia dizer ser seu namorado,de tão imaturo. As saídas encontradas pela adolescente para essa"crise", suas relações com figuras mais velhas, não necessariamente mais maduras que ela, somadas ao olhar irônico, mas ao mesmo tempo doce e romântico sobre aqueles personagens garantiram ao filme sucesso. Some-se a isso a trilha sonora inspirada, folk-independentemeio anos 1970, à lá Belle e Sebastian. Enfim, receita de filme independente americano que incomoda um pouquinho (bem pouquinho, é verdade, um Todd Solodnoz bem leve) mas faz sorrir na medida certa.

E agora temos um filme cujo título brasileiro é "Eu, meu irmão e anossa namorada", indicando a possibilidade de mais uma comédia americana, podendo variar de uma simples bobeira ao estilo revitalizado do escracho do fim da década de 1970 início de 1980 de John Landis e a o grupo de comediantes saídos do Saturday Night Live (John Belushi, Dan Akcroyd, Steve Martin,...), que retornou com o grupo do BratPack (Ben Stiller e companhia, também saídos do SNL, em filmes como O Âncora). Steve Carel, estrela deste "Dan in real life" (o título original já entrega quepode haver alguma coisa menos comédia escrachada de troca denamorada), talvez ajude a pensar em comédia de trejeitos, devido ao seu currículo de filmes de comédia escrachada (Virgem de 40 anos, ...). Mas, qual o que, o filme é na verdade uma comédia romântica, ou comédia de situações! E o fato de ter como atriz principal a francesa Juliette Binoche também faz duvidar da comédia pura. E a dúvida temsua razão pois "Dan in real life" por vezes se aproxima de uma comédia mais refinada, e por isso a citação inicial de Juno. Como o filme"independente" do início do ano, este também tem uma trilha sonoracaprichada, com tom folk-independente, em versão menos adolescente de Sondre Lerche (de quem eu nunca tinha ouvido falar até ler os créditosdo filme, mas que gostei bastante).

Pena que essa aproximação não se concretize, o roteiro é de comédiamesmo, de situações/confusões familiares, com um romance para condimentar. Talvez tivesse passado desapercebido, talvez tivesse sidolançado diretamente em vídeo no Brasil (tenho me surpreendido na locadora com pequenos bons filmes que chegam direto lá), talvez nem tivesse sido grande coisa, não fosse um detalhe, ou alguns: a atuação de Steve Carel, e de quebra de todo o elenco. Se em algum momento osprodutores pensaram que o diferencial do filme seria a presença francesa de Juliete Binoche, ao final devem ter visto o quanto se enganaram. Juliete não faz feio, mas sem dúvida é muito menos "francesa" do que se poderia imaginar. Isso não é novidade, é a mesma distorção que o cinema americano fez com Penélope Cruz, que precisouvoltar à Espanha, guiada por Almodóvar, para voltar a ser espanhola. Mas se Juliete não rouba o filme com seu charme francês, pelo menos éguiada por ele pelo charme americano de um Steve Carel (as críticas do final de semana já fizeram, mais uma vez, o paralelo dele e JimCarrey, outro comediante que também se mostrou ótimo em personagens dramáticos) adorável no papel do Dan do título, um americano "de nível superior", intelectual, escritor, viúvo com 3 filhas, que sempre sabe o que é o certo, sempre racional, mas que se vê arrebatado pela emoção de um encontro, de um enamoramento por uma desconhecida, numa livraria. O fato previsível de que esta desconhecida é a tal namorada do irmão (já entregue em no título brasileiro) e toda a série também previsível de eventos que acontecerão a partir daí não incomodam a nossa inteligência de espectador pelo simples fato de que já estamos, talqual o Dan de Carel, arrebatados pela emoção, pelo encantamento comaqueles personagens adoráveis, em espacial pela doçura dainterpretação de Carel. Deixamos a razão de lado, perdoamos as saídas fáceis do roteiro e tal qual parece ter feito o diretor do filme, nosdeixamos levar pela emoção do encontro de atores fazendo nada além de boas atuações em um pequeno filme salvo por eles do esquecimentocompleto. De pequenos encontros furtivos e emoções também se fazem filmes, que mesmo não incomodando tanto quanto os "independentes" (porque esses têm de ter roteiros sérios, que abordam temas"polêmicos"), podem fazer sorrir e até pensar um pouquinho no quanto fazemos planos e esquecemos de nos surpreender. Surpresas que podemestar numa comédia quase boba recheada de atuações adoráveis! Como navida real, pessoas aparentemente bobas podem ser adoráveis e surpreendentes.

domingo, outubro 26, 2008

Só um comentário: digam o que disserem, façam o que fizerem os irmãos Gallagher, nada muda o fato de que Oasis é a tradução de uma certa década de 1990 em seus primeiros albuns. Wonderwall simplesmente é 1996 para mim, o início da faculdade, os amigos, as novidades de um novo momento de vida. Tudo isso revivido em uma música. Mas também em Champgne Supernova, Don´t Look Back in Anger,...

You tube: Wonderwall (Oasis)

domingo, setembro 28, 2008

O que fazer da vida
Senão vivê-la?
Viver
“Sonhar talvez”
O que fazer do sonho
Se sonhar parece pouco?
Se contamina a vida
De angústia
De desejo
O que fazer do desejo
Senão realizá-lo?
Viver, realizando o desejo impossível dos sonhos.

"We are such stuff
As dreams are made on; and our little life
Is rounded with a sleep."

William Shakespeare, The Tempest, Act 4, Scene 1.



domingo, setembro 07, 2008

Um final de semana, dois filmes brasileiros distintos, uma única solidão, um pensamento em alguém (acho que lhe devo uma sessão de cinema), uma música...

Desafinado (Newton Mendonça e Tom Jobim)
Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso em mim, provoca imensa dor
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas, o que Deus me deu.

Se você insiste em classificar
meu comportamento de antimusical
Eu mesmo mentindo, devo argumentar
Que isto é bossa nova, que isto é muito natural.

O que você não sabe, nem sequer pressente
é que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolleyflex
Revelou se a sua enorme ingratidão.

Só não poderá falar assim do meu amor
Ele é o maior que você pode encontrar, viu?
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados,
No fundo do peito, bate calado
No peito dos desafinados
Também bate um coração

domingo, agosto 24, 2008

O fim do Jogos Olímpicos de Pequim 2008

Eu gosto de teorias da conspiração. Li há não muito tempo o que chamo de "trilogia do futuro presente": Admirável Mundo Novo (nosso mundo neo-liberal-capitalista?), 1984 (o mundo socialista-totalitário: a China? Só que mais colorida que a Eurasia) e A Revolução dos Bichos (a alegoria do princípio). Vi as Olimpíadas de Pequim me perguntando sobre quem são aquelas pessoas. Até que ponto uma sociedade de regras culturais e morais diferentes (como todo o oriente em comparação com o ocidente, e vice-versa) ou uma sociedade controlalada, de formas diretas e indiretas.
Mas não sou eu também controlada, só que apenas pela forma indireta, pela mídia e sua manipulação de pensamentos e sentimentos? Esse poder midiático não faz parte também de nosso mundo ocidental neo-liberal?
Qual será então a diferença? Servir ao Partido e servir ao Mercado? Acreditar na democracia ou no poder do povo? Uma democracia corrupta ou um poder do povo burocrático? Liberdade de sonhar com conquitas individuais ou garantia de um mínimo de conquistas na coletividade?
Eu escolho a liberdade, ainda que sabendo que essa escolha nada tem de inocente ou genuína. Ela é fruto dos meus referências ocidentais.
Não somos livres de princípio, somos fruto de desejos de nossos pais e sujeitos assujeitados da cultura, a qual é uma construção humana. Mas também assujeitados a algo que escapa ao humano (Real, Inconsciente, Deus, Destino, Natureza, outros...).
Isso que escapa é matéria de sonhos (de superação), de arte, do que fascina e incomoda (aqui me lembro do Coringa de Heather Ledge, o incomodo que surge em meio ao que poderia ser apenas banal, entreterniment). E também dos lapsos, dos chistes, dos erros que não se explicam (a queda de Diego Hipólito...), da agressividade que transformamos em esporte, em competição.
Seja qual for o tipo de controle (no final sempre relacionado ao dinheiro e ao poder), há de haver algo que escape enquanto aqui existam humanos. Eu gosto de chamar isso de liberdade, mas há outros nomes possíveis.

terça-feira, agosto 05, 2008

"Eu vou por aí quando a dor me encontra
Ouvindo as canções que já sei de cor
E o meu coração vai achar bem fundo
O amor Maior "
O Som da Música, versão de Claúdio Botelho para The Sound of Music de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II
Você já voltou no tempo?
Não é necessário um DeLorean movido a plutônio. Às vezes um momento, uma música, uma pessoa, um cheiro, uma peça de teatro permitem a viagem. Viagem interna, de volta a uma outra idade. Eu voltei aos meus 12 anos de idade quando assisti, domingo dia 03 de agosto de 2008, aos 29 anos de idade, a montagem de A Noviça Rebelde. Voltei a idade quando vi o filme pela primeira vez, no Supercine. Bom ano o de 1992, algum programador de filmes da Globo teve idéia feliz de fazer um festival de clássicos no, à época, nem tão triste horário dos sábados à noite. Vi alguns dos grandes clássicos neste ano, neste horário. (Alguns anos depois, talvez o mesmo programador, teve uma outra idéia genial: um festival de Chaplin! O horário era mais ingrato, domingo à noite, mas ainda assim foi uma alegria ver Chaplin substituindo os Charles Bronsons da vida).
Adorei aquele filme, que a princípio achava que seria "bobo" (aos 12 anos eu já me achava crítica e adulta). Eu fiquei triste quando Maria voltou para o convento e acreditei que ela se tornaria freira. Que delícia foi ver a seqüência de "Something Good" e a dança do laendler (google e wikipedia me ajudaram a acertar o nome), eu sonhei muito em dançar aqueles passos com alguém. Terminei o filme encantada, querendo ver de novo, querendo cantar as músicas. Sei todas! Vi o filme algumas muitas vezes depois.
E domingo, no teatro, voltei a esse momento. Me encantei quase como aos 12 anos. Até me surpreendi, pois a montagem muda algumas músicas de lugar, inclui dois números que não existem no filme e acima de tudo, mesmo que muito baseada no filme (e essa é a única crítica, no início é um pouquinho difícil desgrudar da comparação), a peça consegue ser uma obra independente. Aos poucos os elementos inicialmente que parecem cópia do filme vão ganhando vida própria, se tornam referências (homenagens?) e elementos outros vão surgindo e garantindo a bela montagem caracteríticas próprias. As versões das músicas são os primeiros elementos a fazer essa apropriação de um original sem se tornar cópia. Alguns versos mantém sonoridade ganhando novos sentidos, sem destoar do original, mas sem precisar ser mera tradução. O verso citado lá em em cima é um exemplo.
Mas também os personagens e os atores que os encarnam conseguem essa mágica, da referência sem ser plágio. Alguns ainda se sobressaem, como o Tio Max de Fernando Eiras, simplesmente divertido, irônico e cativante, como o do filme mas sem ter nada a ver com aquele. O Capitão Von Trapp de Herson Capri, se não canta tanto quanto aquele de Cristopher Plummer, é muito mais apaixonante do que o do filme. Comparar a Maria é mais difícil, Julie Andrews ficou marcada pelo papel, mas ainda assim Kaira Sasso não fica a dever e cria uma Noviça mais leve e até mais decidida, mais século XXI. As crianças são lindas, a pequena Gretel em especial, pena não ter tido créditos para que eu soubesse qual era o elenco infantil do domingo (e também não consegui comprar o programa, tudo muito cheio no grande Oi Casa Grande, podem melhorar a organização) e todo o elenco, com a Madre Superiora que canta muito, já tão falada é muito bom.
Cenários incríveis que sobem, descem, iluminação que cria Alpes no entardecer, noites e chuvas. Figurinos que completam.
No todo um grande espetáculo musical, que emociona adultos, idosos, crianças e aidna faz alguns adultos se sentirem criança novamente.
E você não acredita em viagem no tempo...
Serviço: no site oficial (anovicarebelde.com.br) pode-se ouvir as músicas.

sábado, agosto 02, 2008

Auto referências...

Domingo, Maio 28, 2006
Apesar de tudo, do quanto te conheço, do quanto sei de suas atitudes, não consigo deixar de pensar que poderia ser legal. Que, de alguma forma mágica, a lá comédia romântica, poderia dar certo. A vida não é comédia romântica, pelo menos a minha ainda não foi (mas já foi romance, ainda que um pouco triste, mas ainda assim romance) mas fico imaginando que poderíamos ser legais, um com o outro, um para o outro.
Mas, não tem nada a ver mesmo, então, esse post será minha tentativa de, ao exteriorizar essa idéia, acabar com ela. Não pensarei mais nisso, mas, como diriam os Paralamas...
"Se você lembrar,
se quiser jogar
Me liga, me liga"

M.D. // Comentários
Nov 16 2007, 12:59 am
sabe... ja sonhei bastante... queria em um outro momento ler um texto assim... feito p/ mim! como procurei... de rpente essa é a graça né?
Eu


Hoje, sábado, 02 de agosto de 2008
O engraçado é que a pessoa em quem pensava ao escrever esse texto nem deve ter lido, nem sabido dos meus pensamentos. Foi inspiração, talvez alguém ou um sentimento que existiu mais em meus pensamentos e imaginações . Fico pensando o quanto me perco na procura do outro, o quanto fantasio um outro perfeito e não perco a oportunidade de enxergar o próximo ao lado. Talvez me perca tentando me achar. Será essa a graça, Eu?
;-)

domingo, julho 06, 2008

O inverno no Rio de Janeiro é um convite à melancolia. O sol mais frio, uma cidade sob uma luz dourada mais pálida, mais intimista que aquela do dias de veraneio. Um convite ao tempo, sem a premência do calor, cantada pelos Hermanos em "Deixa o verão pra mais tarde". Tempo de pensar, de parar numa tarde de domingo. De acordar em outra cidade, inundada pela nostalgia, pela sensação da perda, do tempo que se vai, das mudanças inevitáveis, da saudade de algo imemorial, cujo registro não é do pensamento, só do afeto. Do vento frio que parece evidenciar a tal solidão do afeto ao mesmo tempo que estimula fantasias de memórias, do que foi e do que foi apenas quase. Isso que irrompe no meio da tarde fria e ensolarada de domingo.

terça-feira, abril 22, 2008

My Blueberry Nights (Um Beijo Roubado)
Wong Kar Wai, 2007

Às vezes é necessário que nos afastemos de nosso lugar de origem para que possamos ter uma outra percepção do que nos rodeia. Às vezes estar num outro lugar que nos é estranho, que não causa a familiaridade da origem permite a emergência de algo novo em nós mesmos. Talvez o já conhecido evoque mais racionalização e crítica (mas não sem sentimento), e quando estamos diante de algo novo apareça mais o afeto puro, ainda sem muita possibilidade de crítica, pois ainda não conhecemos aquilo que nos aparece.
O (primeiro) filme americano de Wong Kar Wai me fez pensar nisso. Talvez por ter me parecido seu filme mais sentimental, de um diretor cujos filmes sempre me pareceram marcados por sentimentos enormes, mas reprimidos, impossíveis. 2046, seu filme anterior, me fez pensar exatamente na (im)possibilidade do amor. Mas este My Blueberry Nights (cujo título brasileiro é simpático á doçura do filme, na verdade os títulos brasileiros dos filmes de Wong Kar Way são sempre bons) fala exatamente da busca de possibilidades. Começa com um fim de relacionamento, que leva ao um encontro. Norah Jones (que funciona como atriz, sua inexperiência parece ser utilizada pelo diretor exatamente para marcar a experiência de uma jovem inocente, no sentido de não prejulgar, criticar, de tomar as experiências como algo novo, como uma primeira vez, inexperiência cinematográfica vira inocência de olhar sobre o mundo) e Jude Law (maravilhoso, sempre, charmoso, sempre) se conhecem em meio a outras histórias de cada um, principalmente a dela. Mas Norah/Elizabeth vai embora, fazendo talvez a escolha menos usual, tal qual escolher a blueberry pie do título. Se aventura sozinha na América, não fugindo de uma nova história de amor (mantém cartões postais que contam sua vida para Jude/Jeremy), mas como se fosse necessário procurar algo de si mesma ao se aventurar, para poder retornar e começar um novo amor. Para que este seja realmente novo. A aventura, o risco, está na viagem, na solidão, na falta de certezas marcadas. Mas o que aparece nessa viagem são os encontros de outras pessoas, de outras possibilidades, espelhos que permitem a Elizabeth se reconhecer e descobrir nas diferenças de reflexo. E ao final, bem, ao final descobrimos nós que Wong Kar Wai também se permitiu uma nova escolha, talvez um momento de se reconhecer no reflexo do espelho americano e fazer um conto mais doce que os seus anteriores. Talvez um olhar inocente sobre uma outra cultura tenha permitido uma expressão mais sentimental que reprimida (ainda que essa repressão fizesse transbordar o sentimento, espelhando, permitindo identificação e encantamento...). Diferente, ainda que sendo a mesma base. Agridoces noites, mais doces... :-)

domingo, abril 20, 2008

Um dia, assim, meio do nada, quase sem querer (mas querendo, sempre querendo), você conhece alguém interessante. Não precisa ser o menino mais lindo, o homem mais charmoso e inteligente da festa. Mas é ele quem chama a sua atenção, ele faz você imaginar e querer. Ao mesmo tempo que faz não saber o que falar, não saber sustentar um olhar. Situações de comédia romântica. Mas o outro pode não entender de comédias românticas e te (me) achar uma simples idiota.
Coisas da atração, esse estranho poder interno que nos permite o encantamento com o outro e sobre o qual eu não tenho mínimo controle. Mas vivo a tentar controlar...


domingo, março 16, 2008

O tempo segue seu rumo
ao futuro
A vida se vai
ao além
Fico eu a lidar
com o presente e o aqui
São tudo o que tenho

"...
Tenho o que ficou
e tenho sorte até demais
como sei que tens também..."
Andéia Dória, Legião Urbana

sábado, março 15, 2008




You Act Like You Are 25 Years Old



You are a twentysomething at heart. You feel like an adult, and you're optimistic about life.

You feel excited about what's to come... love, work, and new experiences.



You're still figuring out your place in the world and how you want your life to shape up.

The world is full of possibilities, and you can't wait to explore many of them.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Tenho uma fitinha azul do Senhor do Bonfim amarrada em meu pulso esquerdo. Daquelas que são oferecidas aos montes em Salvador, ao troco de que o turista deixe algum troco pelas fitinhas. Ainda que a elas não sejam vendidas e sim oferecidas, no final pedem a "ajuda".
Eu já fui a Salvador, mas minha fitinha azul no pulso esquerdo não me foi presenteada lá. Eu até ganhei uma lá, rosa, está amarrada em uma bolsa que usava no dia. As coisas das quais somos capazes de lembrar... Um determinado momento e uma fitinha rosa.
Mas a rosa está na bolsa, no pulso tenho a azul. E quando amarrei a azul, aqui no Rio, oferecida como lembrança por uma amiga que fora a Salvador mais de um ano depois da minha estada, bem, quando amarrei a fita eu fiz o que me disseram para fazer.
Eu fiz pedido. Um desejo.
Foi por isso que em Salvador, a terra das tais fitinhas, não amarrei nenhuma ao pulso. Fui sensata em não fazer pedidos. Eu já tivera minha cota de desejos naquele momento, melhor não exagerar. E de qualquer forma, ter uma esperança de desejo amarrada ao seu pulso, como lembrança concreta do desejo, parece um fardo. E desejos não devem ser fardos, pesos, ainda que sejam trabalhosos.
E eu ainda tenho essa fitinha azul, já desbotada, puída, amarrada ao meu pulso, três anos após o amarramento ao pedido. Nem o desejo se realizou, nem eu tive coragem de arrancar a fitinha. Isso vindo de alguém que discute a fé deixa claro que há algo de místico e sagrado que persiste à lógica e à ciência.
Persiste também o desejo.
Já quis arrancar a fita, por raiva, por não me importar, por não combinar com a roupa.
Mas ela persiste. Já puída. Até quando?

terça-feira, fevereiro 05, 2008

"...
o tempo passou, irão se casar
duas Marias da mesma raiz
Luisa com Napoleão
e Leopoldina será nossa imperatriz
será também nome de trem
que passa em Ramos a nossa estação
onde imperam Marias e Joaõs
..."
Samba enredo do GRES Imperatriz Leopoldinense, 2008

sábado, fevereiro 02, 2008

Porque é Carnaval mas sempre existem possibilidades...

O pessoal da Contracampo e suas ótimas críticas/análises cinematográficas... Em especial essa de Desejo e Reparação está perfeita: http://contracampo.com.br/90/critatonement.htm

domingo, janeiro 27, 2008

Picture yourself on a train in a station
With plasticine porters with looking glass ties
Suddenly someone is there at the turnstile
The girl with kaleidoscope eyes
Lucy in the sky with diamonds, Beatles

"Sombras de Goya" foi visto por mim como um filme sobre as ideologias e o poder, como o poder está sempre nas mãos de um grupo de pessoas que se identificam e fortalecem graças a uma ideologia. E se alguém está no poder, sobram outros alguéns que não estão e brigarão para retornar ou lá chegar. Mas também há um certo grupo de pessoas que está sempre à margem dessa luta do poder. Alguns são completamente segregados quer seja pela religião, quer pela razão ou por alguma outra forma de discriminação (às vezes a burrice segrega). Outros se colocam à margem por escolha, pela arte, por uma ética. Ainda que, como mostrado no filme, essa arte possa servir a qualquer poder, ao final não serve a nenhum, tendo como meta não uma ideologia, mas sim a estética, o belo, a ética do belo.
E hoje, como sempre na história, um grupo dominante (em qualquer área em que haja relação de poder) tenta manipular e homogenizar a todos e a seus pensamentos, talvez na tentativa simples de se manter no poder. Não mais segregamos hereges e loucos, tomamô-los no seio da comunidade e tenta-mos acceitá-los através da cura.
Mas também hoje, e ainda, a arte serve como resistência ao poder, ao domínio. Se a contra-cultura foi sim fagocitada pelo poder liberal-capitalista, se virou objeto de mercado, ela continua a deixar sua influência, por baixo de toda a massificação que lhe foi injetada. Quando se assiste a um musical em inglês, com musicas de um famoso grupo inglês da década de 1960, com arranjos que em alguns momentos remetem a antigos musicais americanos e em meio a tudo isso que parece já tão massificado encontra-se a beleza, a alegria e algo que permite enxergar o mundo, pensá-lo, talvez aí tenhamos mais uma vez a demonstração da estética e da ética da arte. O humano ainda encontra seus caminhos, para o bem e para o mal.
Belo "Beatles num céu de diamantes".

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.
Blackbird, Beatles