Uma Mente Brilhante/A Beautiful Mind
Fui assistir Uma Mente Brilhante esperando um filme oscarizável. Quero dizer com isso que esperava um filme feito para ganhar OSCARs (e não necessáriamente prêmios cinematográficos em geral) e agradar e emocionar o público na medida certa. Devo dizer que encontrei no filme exatamente o que esperava, mas isso não significa que não tenha gostado do que encontrei.
Uma Mente Brillhante parece um filme calculado, sim. Até as emoções são calculadas, de forma a evitar que se torne um dramalhão. Mas ele emociona, de qualquer forma. E como poderia não fazê-lo, contando a história real (mesmo que romantizada) de um homem inteligente, ambicioso mas que no auge de sua vida descobre sofrer de uma doença até hoje sem cura. Uma doença psiquiátrica, que coloca em xeque a sua própria noção de realidade, que o faz duvidar daqueles que mais ama, e cujo tratamento altera suas capacidades intelectuais. Argumento bastante para fazer muita gente grande chorar...
Entretanto, o diretor Ron Howard tenta fugir das emoções fáceis. Mesmo contando a história do ponto de vista do protagonista (um dos maiores trunfos do filme), o matemático Jonh Nash, o filme é por vezes frio. Talvez até seja exatamente por ser narrado em primeira pessoa, talvez parte do distanciamento que a esquizofrenia confere a personalidade de Nash passe para o filme. Ou talvez seja apenas jogo estilístico do diretor.
O interessante é que se às vezes o roteiro parece frio e distanciado, a trilha incidental é sempre grandiosa e presente. O que não é necessariamente bom. Em alguns momentos a música é tão presente que parece destoar de todo o resto, principalmente porque a trilha de James Horner é toda de música clássica, de forma que a história se destaca um pouco do tempo. Notamos que o tempo passa só por causa das roupas dos personagens, que vão se adequando à moda, mas em momento nenhum a música auxilia essa passagem de tempo. Como a mente de Nash que tem dificuldade em se adaptar ao meio externo, a trilha sonora do filme não se adapta ao tempo e é um tanto ao quanto histérica.
Mas, eu comecei dando a entender que tinha gostado do filme, não? E até agora me parece que só critiquei. Bem, é chegada a hora dos elogios rasgados. São dois grandes elogios! O primeiro eu já tinha citado antes, é o roteiro. Ou melhor, o fato do roteiro contar tudo a partir da visão de John Nash. Isso rende um jogo entre fantasia e realidade que confunde e até fascina, além de surpreender. As fantasias de Nash são envolventes e até cativantes, de forma que é fácil entender porque ele se perde nelas. É uma forma de tornar a doença mais compreensível para o espectador, ao mesmo tempo que auxilia também a compreensão de como funciona a mente "matemática", como surgem as idéias que se transformam em equações.
O segundo grande elogio é para Russel Crowe. É uma atuação brilhante a dele, sútil, contida, e perfeita. Ele é um esquizofrênico na tela, desde o início. Esse é um dos seus melhores trabalhos, tão bom quanto o de O Informante, que eu antes considerava o melhor trabalho dele. Jennifer Connelly também atua muito bem, e faz um par muito equilibrado com Crowe. O papel da esposa que tem de segurar a barra de um marido "maluco" poderia cair na caricatura, ou ela poderia simplesmente ser engolida por Crowe, mas isso nunca acontece. Além deles, Ed Harris é sempre uma grata surpresa em qualquer filme e em qualquer papel, protagonista ou coadjuvante, ele sempre se sobressai. O mesmo acontece com o inglês Paul Bettany, cujo Charles se torna um personagem bastante cativante.
Ao final, há a mensagem da superação dos obstáculos e do reconhecimento do talento e do esforço, parecida com a de Apollo 13, dirigido pelo mesmo Ron Howard, que também concorreu ao OSCAR em 1995. Há também a sensação de que assitimos um belo filme, algo inteligente, bem feito, sobre um homem não muito conhecido do grande público mas cujo trabalho foi de grande importância para a história do século XX. O filme pode até suscitar algumas divagações, sobre a importância de se interagir ou não plenamente com o meio social do qual fazemos parte. O filme pode até mudar a forma com a qual encaramos uma pessoa esquizofrênica. Enfim, o filme tem muitas qualidades, algumas até louváveis, edificantes. E eu não tenho dúvidas em recomendar o filme.
Mas serão essas qualidades assim tão louváveis mesmo que tenham sido matemáticamente calculadas para o serem? Esta, é a minha dúvida...
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