Histórias Proibidas e O Amor é Cego
O que um filme tem a ver com outro, alguém deve estar se perguntando. Talvez não muito, além do fato de que os dois tentam fazer rir a partir do grotesco nosso de cada dia. A diferença é que Todd Solondz, diretor de Histórias Proibidas (Storytelling) trata do grotesco comum mesmo, das pessoas medianas e suas taras secretas, seus pequenos pecados, sua forma "normal" de ser cruel, tentando fazer refletir (além de rir). Os irmãos Farrelly (Bob e Peter), diretores de O Amor é Cego (Shallow Hal), fazem rir (e até hoje somente isso) a apartir de cenas um tanto ao quanto mais gortescas, exercitando o politicamente incorreto: piadas com pessoas deformadas de todos os tipos são constantes em seus filmes.
Entretanto, em O Amor é Cego, os Farrelly parecem tentar fazer um filme um pouco menos politicamente incorreto, tentam passar uma mensagem legal, e de alguma forma se tornam ainda mais críticos...
Foi aí que me lembrei de Solondz. Tendo assistdo Histórias Proibidas apenas dois dias antes, tinha bastante presente a sensação causada por um filme dele. Não vou tentar escrever sobre esse filme porque tenderia a ser um plágio da ótima crítica de Eduardo Valente na Contra Campo, onde ele diz o quanto o filme é importante por ser uma autocrítica, uma autoanalise do diretor, que talvez permita a ele se liberar dos rótulos e alçar novos projetos.
Mas, voltando aos Farrelly, o que queria dizer é que, ao tentar fazer um filme mais "bonitinho" eles de alguma forma perderam em graça (há piadas de mau gosto, mas tão conhecidas, como a do gordo que cai na piscina, e previsíveis que não arrancam as gargalhadas sinceras que a cena do "gel" em Quem Vai Ficar com Mary fazia) e acabam parecendo criticar aquilo sobre o qual antes só queriam fazer rir. E é nessa crítica que eles acabam por se assemelhar a Solondz. Só que, enquanto Solondz faz críticas sinceras mesmo que bastante contundentes, as dos Farrelly soam falsas, maquineístas.
Não é impossível acreditar que o personagem principal (Hal, interpretado por Jack Black que foi mais feliz com seu personagem secundário em Alta Fidelidade) ame a Gwyneth Paltrow de 200 quilos, mas é difícil aceitar o que se desenrola ao redor deles: a vizinha bonita que se interessa por ele ao ver que ele não é superficial, o amigo gordinho e baixinho (o Jaso Alexander de Seinfield) que se acha o máximo. Na mesma linha de mensagem, a de que "imagem não importa", Shrek é mais crível e sincero, mesmo sendo um conto de fadas. Talvez exatamente por ser um conto de fadas. O Amor é Cego parece não se decidir entre ser crítico ou leve, ficando no meio do caminho...
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