quinta-feira, março 21, 2002

Os Excêntricos Tenenbaums

Wes Anderson é um jovem talentoso e inteligente (que me lembra de alguma forma Wood Allen), como provam seus filmes: esse Tenenbaums e Rushmore, cujo título brasileiro Três é Demais eu abomino, e ainda Pura Adrenalina, este último ainda não tive a oportunidade de assistir. E que já recebeu o devido reconhecimento por parte da crítica americana. Para alguém com 31 anos, ele já tem uma carreira invejável. Isso tudo confere a ele, ou pelo menos ao seus filmes, alguma pretensão, sem dúvida. Mas, se por um lado são um tanto ao quanto pretensiosos, seus filmes são também sinceros ao retratar pessoas/personagens que estão acima da média de inteligência, talento, riqueza ou, mais apropriadamente, tudo isso.

E essa sinceridade, aliada a um olhar carinhoso sobre esses personagens (que talvez tenham algo, ou muito, do próprio diretor) que transforma os filmes de Anderson em experiências interessantes, inteligentes mas também cativantes. Esse último, Os Excêntricos Tenenbaums alia-se ainda a um roteiro comercialmente mais fácil de ser vendido (e por isso, assim como pelo elenco conhecido, foi lançado em grande circuito, enquanto Rushmore, tão bom quanto, é conhecido por poucos) ao falar sobre o resgate de uma família de gênios fracassados, organizado pelo pai cafajeste.

O filme começa apresentando os três jovens gênios da família Tenenbaum, quando ainda são crianças. É uma seqüência inteligente, inventiva (a narração em off, feita por Alec Baldwin, cria um clima documental que acompanha todo o filme) e bela, engrandecida pelo fundo musical, nada mais nada menos que Hey Jude, em uma ótima versão instrumental (era intenção de Anderson que fosse a versão original dos Beatles, mas os direitos não foram liberados). Cada um dos Tenenbaums além de inteligente possui também uma capacidade especial: Chas é um gênio das finanças e negócios; Margot é uma grande dramaturga e Ritchie é um dos melhores tenistas da época. Os pais, Etheline e Royal, estão também acima da média de inteligência. E há ainda o amigo e vizinho Eli, que sonha ser um Tenenbaum.

Mas toda a inteligência e talento não faz dos Tenenbaums uma família feliz e bem sucedida. E é exatamente sobre o fracasso, em diversos pontos, mas principalmente no âmbito emocional, que o filme se desenrola., com momentos irônicos, cômicos e outros tocantes.

Além do roteiro que consegue construir todos esses estranhos e diferentes personagens de forma real, da direção de Wes Anderson, e da direção de arte que cria uma Nova York completamente atemporal com taxis que continuam os mesmos, apenas envelhecidos (caindo aos pedaços para ser mais exata) e outros pequenos detalhes que tornam impossível datar o filme além da década de 70, o outro grande acerto do filme é o elenco. Ben Stiller e Gwyneth Paltrow têm talvez seus melhores papéis até o momento, e conseguem desenvolvê-los muito bem. Se parecem de certa forma caricatos, principalmente no início, é porque isso é necessário para que entendamos melhor o quão desestruturados emocionalmente são eles. Quanto ao resto do elenco, resta falar que todos têm seu momento de brilhar, tanto Angelica Huston (ótima como sempre), os irmãos Wilson e os coadjuvantes, dentre eles Bill Murray em mais um grande trabalho com Wes Anderson (a primeira parceria em Rushmore rendeu ótimas críticas). Será difícil esquecer ainda do personagem de Danny Glover, que foge dos seus papéis mais habituais. E Gene Hackman, bem, ele merecia ter sido indicado ao OSCAR e mereceria ter ganho, por imprimir a dose certa de cafajestagem e charme ao seu Royal Tenenbaum, e assim torná-lo um dos personagens mais reais e cativantes do filme e de sua carreira, que já é cheia de grandes personagens.

A trilha sonora é outro grande acerto. Pontuada por canções nostálgicas, que remetem aos anos 70, exatamente a época de ouro dos Tenenbaums, é uma daquelas trilhas que ao mesmo tempo que é recheada de músicas pop consegue também fazer referência direta ao filme, como as trilhas dos filmes de Cameron Crowe. Pena que o cd parece ainda não ter chegado por aqui (como sempre, salvo exceções de filmes que realmente fazem muito sucesso, as boas trilhas sempre chegam atrasadas, quando chegam!).

Por fim, Os Excêntricos Tenenbaums é um ótimo filme, que merece o rótulo que recebeu nos EUA de um dos melhores filmes de 2001. Um pequena grande obra cinematográfica, que merece ser vista, revista e comentada!!

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