sexta-feira, outubro 29, 2004

"Queria ser poeta. Queria saber expressar a beleza do mundo e das pessoas, da forma exata como as enxergava. Mas sempre tinha a sensação de que no processo de transformar seus sentimentos em palavras, algo se perdia. Por mais que estudasse gramática, lesse bons livros, melhorasse seu vocabulário, não conseguia. Talvez fosse mais questão de capacidade do que de conhecimento. Ficava entristecida por isso. Entretanto, com o tempo entendeu que seu olhar e sensibilidade não eram características assim tão gerais da espécie humana. Eram lhe algo particulares e também lhe permitiam aproximar-se dos outros, mitigar a sua solidão inerente da espécie. Descobriu que mesmo não tendo o dom das palavras para se comunicar com muitos, o simples fato de poder comunicar-se com os poucos ao seu redor já poderia fazer a diferença. Ainda era complicado, nem sempre se fazia entender, mas estava disposta a continuar tentando, por cada momento, ainda que fugidio, em que não se sentia sozinha. Já não queria ser poeta, só queria tentar ser feliz."

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