sábado, dezembro 04, 2004

"O que diferencia o impossível do difícil? A questão parecia-lhe importante, quase essêncial pois dela dependiam as decisões que estava por tomar. Precisava resolver se valia apena tentar ou se, sendo impossível seu desejo, apenas lhe restava resignar-se. Mas sua pergunta permanecia sem resposta, por mais que pensasse, discutisse, procurasse a resposta na filisofia, na ciência ou na fé. Queria acreditar, na verdade, que alguma lei resolveria por ela sua vida, determiando o que fazer, desejar, amar. Mas ao mesmo tempo questonava cada uma das leis humanas que poderiam cercear seu querer e amenizar a angústia que lhe era inerente. A liberdade, então, de pensar, decidir, querer tinha por preço a angústia de se saber livre e temer estar só. Mas não eram exatamente a angústia e o medo da solidão que movimentavam seu ser? Não era pelos momentos em que se sentira completa, acompanhada na imensidão, que estava disposta a correr os riscos inerentes de querer o impossível e assim acreditar que era apenas difícil? Se "assim é o que assim lhe parece", já tinha sua resposta, por mais que quisesse duvidar de si mesma, por mais que fosse manter-se a procura de uma certeza ou verdade absoluta. Ainda que duvidasse que tais existissem, seria a procura de sua vida. Mas no meio tempo tinha de viver e correr os riscos de ter, ou não, o impossível."

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