segunda-feira, março 25, 2002

Desabafo...

Cresci assistindo filmes. Em parte porque não saia muito para brincar, era um tanto quieta, porque meu pai sempre gostou de cinema e também porque sempre entendi aquela linguagem. Os filmes são parte da minha vida, sem dúvida nenhuma. Assim como livros e música, mas um pouco mais que eles. Me interessei mais pelos livros por causa de um filme, A História Sem Fim, assistido ainda bem nova por volta dos 5, 6 anos. Descobri um dos meus estilos musicais favoritos (o jazz americano e seus standards de Cole Porter, Gershwing e Berlin, entre outros) graças aos musicais, e até hoje, boa parte da minha coleção de cds é composta de trilhas sonoras.

É por isso que mesmo sabendo que o OSCAR é uma premiação da indústria cinematográfica americana, destinado a reconhecer aqueles que, mantendo-se de preferência dentro dos padrões dessa indústria, conseguiram destaque no ano e ajudaram dessa forma a manter a produção, mesmo sabendo disso tudo eu ainda assisto a cerimônia, torcendo por algum filme em particular. E ainda fico desapontada quando o filme não ganha.

Hoje de madrugada fiquei mais desapontada que de costume. A premiação de Ron Howard e seu Uma Mente Brilhante foi uma das mais burocráticas dos últimos anos. Num ano com filmes como O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel e Moulin Rouge, que além de serem importantes para a tal "indústria", pois arrecadaram muito dinheiro nas bilheterias (Moulin Rouge fez sucesso no exterior, mesmo que nem tanto nos EUA), são também artisticamente importantes, por serem filmes de autores, marcantes e que podem ditar mudanças de estilo. Num ano como este a academia prefere premiar um filme feito tão somente para ganhar o prêmio, que, se aparentemente não tem grandes defeitos, também não tem grandes méritos, não causa grandes emoções e será lembrado no futuro como "o filme em que Russel Crowe faz o matemático esquizofrênico".

Será que alguém vai lembrar de Moulin Rouge como "o filme em Nicole Kidman e Ewan McGregor cantam" ou de SDA como "o filme de magos, elfos, anões e homenzinhos de pé grande"??? Sinceramente, eu acho que não. Mesmo quem não gostou destes dois filmes, quem viu defeitos e criticou, vai lembrar muito bem deles pois, você pode gostar ou não, mas não pode negar que não são filmes descartáveis. Mesmo Gosford Park marca mais, com sua crítica à sociedade inglesa em decadência dos anos 20, com sua direção segura de Robert Altman (que merecia o OSCAR por esse trabalho e por todos os outros que não ganhou, como Short Cuts) e suas ótimas atuações. Não posso falar de Entre Quatro paredes pois não assisti.

Enfim, fiquei decepcionada com o resultado das premiações, por mais que já esperasse tal resultado. Interessante foi notar que na mesma noite, pouco antes da premiação do modelo formal de filme americano, Robert Redford recebeu sua homenagem com um belo discurso sobre liberdade e criatividade, sobre como é importante, para a própria indústria cinematográfica americana, estimular a criatividade e a arte em seus filmes, ou deveria dizer, "produtos"? A Academia reconhece a importância do Sundance Festival, dá a Redford a chance de falar o que pensa e fazer críticas, em tom suave, mas ainda sim críticas, mas no final nega isso tudo...

Pelo menos Denzel Washington teve seu merecido reconhecimento. Apesar de que me pareceu bastante discriminatório que no mesmo ano em que Sidney Poitier recebe uma homenagem dois atores negros ganham os OSCARs de ator e atriz principal. Mesmo merecendo a impressão que fica é a de que ganharam por serem bons atores negros quando na verdade devem ser vistos tão somente como bons atores...

E Pearl Harbor, um dos piores filmes de 2001, ganhou um OSCAR! Merecido até, pois os efeitos sonoros são muito bons, mas não deixa de ser engraçado.

E Randy Newman ganhou com a engraçadinha If I didn’t have you de Monstros S.A. num ano em que havia Sting com Until e Paul McCartney com Vanilla Sky concorrendo. E ainda a bela (e élfica, como diz meu irmão) May it be da Enya.

E no fim, fiquei acordada até de madrugada assistindo uma cerimônia séria (ficou claro como 11 de setembro ainda está vivo na memória americana), cujo momento mais divertido foi a bela apresentação do Cirque du Soleil. Bem, teve ainda o Wood Allen e o lindo, jovem e talentoso casal Ryan Phillippe e Reese Witherspoon.

E o que ficou foi a decepção final...

Nenhum comentário: