quarta-feira, maio 01, 2002

"E o motivo para ser isso é bastante simples: ele é sobre o Brasil de hoje. E tem urgência em sê-lo, em colocar na tela a vivência que aflige o espectador com o que ele sente nas ruas, com as contradições que ele vive, em conflito, angustiado, confuso como deve ser qualquer filme que tenta falar do que o cerca quando é óbvio que não há distanciamento para tal, mas ao mesmo tempo não se consegue ser de outra forma. E, talvez o que mais o torne diferente da produção nacional é que ele o faz sem querer somente fazê-lo. Ou seja, ele é sim um "conto exemplar" sobre a sociedade brasileira em 2001, mas antes de ser exemplar ele é um conto. Se a realidade surge nele, discutida e onipresente, não é porque ele se pretende a priori como um tratado sobre ela, mas sim porque ela é tão forte que torna-se inescapável. O mundo exterior invade a trama pretensamente "policial" assim como o faz o personagem de Paulo Miklos, pois o verdadeiro "invasor" do filme é o Brasil. Brasil que cisma em surgir nos cantos de cada plano, que cisma em pressionar e assombrar os personagens, que queriam apenas ser isso, personagens. Sempre foi esta a grandeza maior do cinema americano: nos seus bons e maus filmes, nos mais comerciais aos mais reflexivos, sempre deixava em primeiro plano os Estados Unidos da época de sua realização de forma quase transparente, mesmo que fosse pelas bordas das imagens e sons."

Este é um trecho da crítica, ou melhor, análise, que o Eduardo Valente faz do ótimo O Invasor na contra campo. Não sei se já escrevi, ou mesmo se importa para alguém, mas ele é um dos meus críticos de cinema favorito, junto com o Jaimme Biaggio, do Globo.

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