domingo, junho 16, 2002

"Se a Globo não conseguir pegar o Elias maluco, ninguém consegue."

Essa tem sido uma frase "fácil" em qualquer discussão sobre a morte do jornalista Tim Lopes e sobre a violência no Rio, que são temas praticamente onipresentes nestas últimas semanas. As organizações Globo ajudam a manter o tema em debate, com matérias nos telejornais e cadernos especiais como o que faz parte do Globo deste domingo. Prestação de serviço, denúncia ou sensasionalismo barato? Ou, ainda, um pouco de cada???

De qualquer forma, destaco duas passagens de dois textos do tal caderno especial, que parecem ajudar a pensar sobre esse problema que já faz parte da vida de qualquer carioca há algum tempo, mas parece que para algumas pessoas, surgiu ontem.

"...
Não quero afirmar que todo pobre é bandido, porque senão estaríamos realmente em guerra civíl, mas sim que dentro das favelas são os mais miseráveis e membro de famílias desorganizadas, analfabetos ou semi-analfabetos que na maioria engrossam as fileiras da criminalidade. Os moradores das periferias já sabem, desde cedo, quem vai ou quem não vai entrar para a vida do crime, pois sào aqueles que estão na base da pirâmide social da favela que matam e morrem regularmente. A entrada para as fileiras da criminalidade é ainda na infância, num processo lento e doloroso, pois ninguém vira bandido da noite para o dia, mesmo sendo essa a única opção. A segunda opção, a de inclusão no mercado de mão-de-obra barata, é para os que estão no topo da pirâmide, pois, por incrível que pareça, está fora de alcance da base.
..."

Paulo Lins

"...
Eu não acredito que haja alguma possibilidade de reversão desse quadro simplesmente com passeatas na orla, se vestindo de branco. Isso não vai cegar o sabre dos Elias Maluco da vida. Não considero séria nem eficaz essa forma de luta. Para mim, essas passeatas são quase ccomo um desfile de moda com o merchandising da antiviolência. É apenas uma tentativa de aliviar culpas. É uma coisa deles, enquanto Zona Sul, gente bonita e bronzeada. A situação requer uma emergência maior. Ninguém assume o quanto essa questào da violência é de fato emergencial. Todo mundo se vira para o mar, de costas para o interior, para a pobreza, a miséria, o abandono da periferia e das favelas. Tudo agora é entretenimento. Ser feliz agora é se entreter, se divertir. Há uma necessidade de se esconder nossas mazelas.
..."

Marcelo Yuka

E, por fim, um corte e colagem a partir do blog da Cecília:

tim lopes 2

"Eu não conhecia o trabalho desse cara antes do auê em torno da morte dele, mas acho o seguinte: não tem nada a ver ficar dizendo que ele mereceu morrer ou que estava ERRADO em tentar fazer a matéria que fazia. A intenção dele tinha sentido, e seria massa se tivesse dado certo. Repórteres se arriscam o tempo todo pelo mundo, e desse risco freqüentemente sai informação importante.

Mas eu não concordo com a REAÇÃO da imprensa, sindicatos e governo em relação à morte dele. Supõe-se que o Tim Lopes sabia dos riscos que corria e que estava lá no morro por iniciativa própria. Pode-se achar que é burrice, loucura, tudo bem. Mas o fato dele ser jornalista não deve tornar a morte dele extraordinária. Isso é revoltante. Um repórter não tem um crachá que diz que ele é um ser humano de mais valor para a sociedade do que um carteiro, uma empregada doméstica ou um motorista. Quando se fala de ASSASSINATO (e é isso que aconteceu com o Tim Lopes, foi assassinado), todo ser humano é uma vítima igual às outras. Logo, levantar a bandeira da "obstrução à liberdade de imprensa" é uma bobagem ainda maior do que se infiltrar no morro pra fazer o que o Tim Lopes fez. Como o mojo observou no blog dele, uma reação desse tipo só é possível vinda de uma imprensa que se julga acima do bem e do mal. Todos se ajoelham diante de um repórter quando este dá ao povo a oportunidade de ser parte do espetáculo, e assim os jornalistas têm sua pequena dose de divindade, são o deus operando a câmera, perguntando aos reles mortais o que eles acham disso e daquilo. Mas pro traficante que dividiu o Tim
Lopes ao meio com uma espada, ele não era um repórter, muito menos um deus: era um imbecil que se meteu onde não devia e que tem que pagar pelo que fez assim como qualquer outro pé-rapado que olhasse torto pra namorada de um traficante ou invadisse uma zona rival.

Até onde o repórter deve ir? Até onde julgar adequado. Tim Lopes fez o seu julgamento e se deu mal. É lamentável, é trágico, mas não é extraordinário, e não se deve tirar da morte dele nenhuma conclusão diferente do que se tiraria da morte de qualquer outro cidadão numa favela violenta."

galera, autor da livros do mal, na lista da ird.
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10/06/2002 14:51

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