sexta-feira, agosto 09, 2002

Cresça e apareça

Um comentário no Cinderela me fez pensar sobre esse tal "crescer"...

Não é um tema novo para mim, sempre pensei sobre isso. Como já escrevi aqui tenho dificuldades com mudanças, e já que crescer é viver uma mudança constante, crescer nunca foi algo simples (cheguei a achar que tinha "Síndrome de Peter Pan", entidade nosológica que nem deve existir). Na verdade, talvez viver nunca tenha sido simples. O que não significa que tenha sido ruim, longe disso. Acho que o problema é que, nas palavras de meus amigos, eu sempre "filosofei demais". Eu vivo a pensar na vida, sem deixar de vivê-la, mas tentando entendê-la para assim (tentar) aprender alguma coisa.

Mas eu estou me perdendo do tema inicial...

Voltando a questão do crescimento, é engraçado como tudo muda dependendo do referencial. Quando você tem 5 anos, pessoas de 13 anos são "adultas". Quando você chega aos 13 descobre que essa idade é muito menos mágica do que você imaginava e que ninguém acha que você é "adulta", a exceção dos seus priminhos de 5 anos. Por essa época você passa a acreditar que a faculdade é a chave de tudo! A partir do momento que você se tornar "universitária", aí sim você será "adulta". De preferência você estará estudando longe de casa, morando numa república, vivendo a vida sem seus pais, curtindo tudo com seus amigos, exatamente como nos filmes americanos (você até leva em conta a possibilidade de trabalhar para não depender do dinheiro dos seus pais). Aí você faz vestibular (sua mãe nem deixa você tentar para fora da sua cidade porque tem "certeza de que você vai passar") e só passa para aquela universidade próxima à sua casa, de preferência no caminho que seu pai faz para ir trabalhar, de forma que ele te dá carona todo dia...

Você então continua achando que ninguém te vê como "adulta" até que um belo dia nota que seus pais estão cobrando quando você vai começar a trabalhar. Você se assusta com isso: trabalhar é para adultos!!! Num outro lindo dia, um de seus priminhos de 5 anos (seus tios são muito férteis e vivem tendo filhos) te chama de "tia": você se apavora!!! Mas o pior de tudo ainda está por vir. Num dia não tão belo você entra numa loja qualquer e o atendente pergunta: O que a senhora deseja??? "É o fim" você pensa. "Estou velha, já me acham uma senhora". Você começa a repensar toda a sua vida, tentando entender em que ponto dos seus 20 e poucos anos você se tornou uma velha. E de repente, se você não estiver assutada demais a ponto de não conseguir raciocinar, você descobre que você não está velha, você apenas se tornou uma "adulta". Se tudo deu certo, em algum lugar dentro de você a meninha de 5, a pré-adolescente de 13 e a jovem de 18 vão estar se orgulhando da adulta que você se tornou, que elas se tornaram.

De repente você descobre que ser "adulto" não é tão glamuroso quanto parecia. Você descobre que tem "n" responsabilidades, que tem de pagar impostos, mas também tem uns direitos interessantes como decidir sobre sua vida, ir aos lugares que você bem entender, ter cheques e cartões de crédito (que podem se tornar fontes de dor de cabeça, uma doença que você considerava "de adulto"). Você descobre ainda como o mundo se tornou amplo, de repente as suas amizades não se limitam a pessoas de idade próxima: você descobre que há vida inteligente, divertida, bonita e interessante depois dos 20 e poucos. (Os caras de 30 e tantos, 40 e poucos não são mais "velhos", "tios Sukita", são potencialmente interessantes...)

Enfim, você descobre que cresceu e nem notou (talvez, se você for como eu, você até notou mas fez questão de fingir que não). Você descobre que ainda é a mesma pessoa que sonhava em ser adulta, que as coisas mudaram, mas não tanto. E o mais importante é que você está aqui, vivendo, crescendo, aprendendo, sofrendo um pouco mas também se divertindo, aproveitando o tempo que lhe foi dado, de preferência, da melhor forma possível...

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