sexta-feira, janeiro 31, 2003

Spider

Você vê o nome de David Cronenberg como diretor de um filme e pensa: mais um filme estranho e meio nojento. Lembra logo de "A mosca" ou "Gêmeos mórbida semelhança", ótimos filmes, mas sem dúvida muitos "estranhos" e com cenas que podem ser consideradas nojentas, por isso estão na seção terror de qualquer locadora.

Este "Spider" é ao mesmo tempo igual e diferente. Ele é estranho, a maior parte do filme nos perguntamos o que está acontecendo, não entendemos nada muito bem. Mas não tem cenas nojentas e isso ajuda a criar no espectador a devida noção de que o que estamos vendo é na verdade um drama, não um filme de suspense ou terror. Os outros filmes de Cronenberg eram também, na verdade, dramas sobre pessoas estranhas mas acabavam sendo entendidos por muitos como terror, pelas cenas quase escatológicas. "Spider" pode até ser considerado um suspense, pela trama que vai se desnrolando aos poucos e que só entedemos devidamente no final (mas sem momentos surpreendentes, sem clímax friamente calculado), mas no fundo, é um drama sobre um esquizofrênico que tenta entender sua vida.

Falar em personagem esquizofrênico faz lembrar "Uma Mente Brilhante", este sim drama com D maiúsculo. E se a comparação se torna inevitável, para mim, "Spider" ganha em todos os aspectos. Ganha por ser um filme mais sincero, mais real, sem glamourizar uma doença que no dia-a-dia nada tem de glamouroza, por ter um roteiro muito mais interessante e inteligente, por ser, no final das contas, um filme muito melhor. Só acho que não se pode comparar as atuações de Ralph Fienes e Russel Crowe, porque os dois estão perfeitos e muito dieferentes, não porque tenham estilos diferentes de representar, mas porque seus personagens têm doenças diferentes: o de Russel era um ezquizofrênico paranóide, o de Ralph é um ezquizofrênico hebefrênico, caso em que a doença compromete muito mais a vida da pessoa.

Mas se falamos da atuação perfeita de Ralph Fiennes, não há como esquecer a presença marcante de Miranda Richardson no filme. Revezando-se em 3 papéis, e sendo ao mesmo tempo uma só, ela é a chave para o entendimento do filme. Mas se o filme gira em torno principalmente de Ralph e Miranda, fazendo lembrar antigas teorias que culpavam a mãe pela esquizofrênia dos filhos (teorias que hoje não são aceitas e que no final o prório filme mostra não aceitar), o resto do elenco, com Gabriel Byrne, Lynn Redgrave e John Neville não passa desapercebido, sendo todos importantes ao longo do filme.

No fim, após duas horas tentando entender, junto com Mr.Cleg, o que acontece no filme, saímos do cinema não apenas com sensção de alívio de termos desvendado o mistério do filme, mas sabendo que a rel compreensão do filme é que ele é menos um ótimo suspense e sim um grande drama sobre um ser humano atormentado. E também um grande filme de Cronenberg, cheio de clima, com estranhesas, um roteiro impecável, mas também, e acima de tudo, cheio de sinceridade e humanidade.

Notinha: Hoje, na Maratona do Odeon, que rola das 23h de hoje até a amnhã de amanhã, vai ter "Scanners: sua mente pode destruir", do David Cronengerg na última sessão.

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